Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 11/02/2014 - A157
O
país da copa vem há um bom tempo se desnudando frente ao mundo; mostrando suas
mazelas, suas idiossincrasias, suas feiuras. Melhor dizendo, ele sempre esteve
despido. A massa populacional mais adensada é que não enxergava ou então tinha
sérias dificuldades de compreender o que estava diante dos olhos. Aquele
garotinho criado no prostíbulo encara tudo a sua volta com naturalidade
absoluta; ele passa o dia brincando aqui e ali ou se distrai com uma coisa ou
outra etc. No horário agitado de expediente ele dorme no quartinho dos fundos.
Dessa forma, a vida vai passando, passando... Somente depois de bem crescido é
que as circunstâncias se apresentam ao menino com uma nova coloração, com um
novo significado. É como se de repente a cortina caísse revelando o cenário degradante
em que vivia. Na realidade, o ambiente é o mesmo; o que mudou foi o olhar, a
percepção, o juízo da coisa.
Nós,
brasileiros, estamos no meio da travessia onde parte da cortina já despencou.
Ou seja, começamos a enxergar características asquerosas naquilo que antes
tratávamos com naturalidade. E até o objeto de observação já está incomodado
com o nosso olhar de censor. Como bem disse Cazuza na canção “O tempo não
para”, transformaram o país inteiro no degenerado ambiente do garotinho
supracitado, para assim se ganhar mais dinheiro. E por mais que os promotores
da balbúrdia continuem tentando nos engabelar, seus velhos e eloquentes
discursos agora soam como ridículos cacoetes. Portanto, cresce num ritmo acelerado
o nojo e a repulsa do povo aos grandes ícones da nossa classe política. É
interessante observar certas criaturas abomináveis desfiando toscas peças de
oratória na televisão, ao mesmo tempo em que manifestam um pesado semblante
demagógico. É como se o orador tivesse uma protuberante verruga cabeluda bem na
ponta do nariz. Nossa incipiente maturidade política já nos permite olhar as
coisas dessa forma. Resta-nos então rezar para que muitas outras pessoas saiam
da escuridão.
O
esforço do governo de todas as esferas é sempre insistir na tese da
normalidade. Por esses dias, o presidente do TJ-AM afirmou por diversas vezes
que não existe morosidade na tramitação de processos que possa beneficiar esse
ou aquele acusado, mesmo diante da prescrição de um desses ditos processos por
falta de julgamento. A população tem que entender que a justiça no Brasil é
lenta. A população tem que entender (engolir) que a impunidade é um fato
inexorável e que nada pode ser feito para mudar esse quadro. A população tem
que entender que a corrupção está em toda parte e que todo mundo roubaria se
tivesse no lugar do corrupto. A população tem que entender que o corrupto precisa
ser deixado lá, quietinho, vivendo a vida dele. A população tem que entender
que a explosão da violência é um fenômeno natural. A população tem que entender
que o Estado é um péssimo administrador a torrar montanhas de dinheiro em obras
superfaturadas. Esse pessoal que sai às ruas para protestar contra essa
“normalidade” deveria ser preso. Afinal de contas, não há outra forma de
governar que não seja pela corrupção e pela impunidade. Mesmo porque, os nossos
políticos foram forjados no molde da corrupção; eles não conhecem outro
caminho.
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