Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 25/02/2014 - A159
“O
Presidente é um criminoso. Fez da Ucrânia um país de corrupção e de terror. Os
mais pobres não têm qualquer possibilidade de ganhar um salário decente, e os
homens de negócios honestos, que trabalharam e se esforçaram, são vítimas de
extorsão permanente por parte de funcionários e amigos do regime. Vivemos num
regime feudal. Mas as pessoas têm uma mentalidade aberta e não querem mais
viver no feudalismo.” Essa é a declaração de uma cidadã ucraniana publicada na edição
on-line do jornal português Público sábado passado. A reportagem foi produzida
pelo jornalista Paulo Moura.
A
estabilidade política ucraniana está se esfarelando como um castelo de areia à
beira mar. O que a princípio era um protesto contrário à influência russa no
país, acabou se degenerando em violentas reações de amotinados quando o
movimento fez explodir a revolta contida no peito do povo contra os abusos do
governo. Por enquanto não se percebe nenhum sinal de desfecho pacífico, visto
que a população está decidida a mudar radicalmente o sistema corrupto opressor.
Algo semelhante está acontecendo na Venezuela, onde também ocorrem violentos
embates entre tropas oficiais, milícias e grupos civis contrários aos desmandos
do presidente Nicolás Maduro.
Pois
é. Chega o momento em que basta uma faísca para que a revolução seja
desencadeada. Nós também tivemos nosso momento ucraniano; felizmente, sem as mortes
ocorridas em Kiev. Lá, como cá, o estopim da crise em nada tinha a ver com o
verdadeiro cerne da questão. É bom lembrar que a nossa situação ainda não foi
pacificada, visto que os protestos nunca cessaram. Outro fato a se considerar é
que os ucranianos estão conseguindo fazer mudanças profundas no país, enquanto
que todo aquele nosso alvoroço de junho passado sequer arranhou as impávidas e
colossais estruturas da corrupção governamental que continuam mais fortes do
que nunca. Se não fôssemos um país de mentalidade tão atrasada, o movimento de
junho teria se transformado numa verdadeira revolução.
O
cinismo aqui é tão ostensivo que ainda hoje persiste no Supremo a interminável
discussão do mensalão. Se houvesse um grau mínimo de seriedade no nosso sistema
judicial esse assunto estaria sepultado há muitos anos com todo mundo preso.
Preso de verdade. Aqui, todos os esforços são empreendidos para fazer reinar um
permanente estado de impunidade, justamente para que essa famigerada impunidade
tanto esteja disponível ao menor infrator “apreendido” diversas vezes, quanto
ao grande tubarão da política que compra metade do congresso. Melhor dizendo, o
congresso inteiro. Recentemente, uma corte norte americana condenou uma freira
de 84 anos de idade a 35 meses de prisão por ter pichado as paredes de um
prédio público (prisão de verdade). Dias atrás, a polícia paulista teve muito
trabalho para despejar cerca de 3.000 pessoas que ocupavam 960 apartamentos do
programa Minha Casa, Minha Vida. O episódio ficou marcado pela destruição de
várias unidades pelos invasores. Ou seja, virou moda por aqui incendiar ônibus
e cometer depredações sem que o poder público nada venha fazendo para
identificar e punir exemplarmente cada um dos arruaceiros. Estabeleceu-se no
país um clima de impunidade tão adensado que qualquer pessoa se sente
autorizada a partir pra quebradeira.
Talvez
essa seja a tática do governo: deixar rolar. Basta lembrar que todo aquele
furdunço de junho passado explodiu depois que o governador Geraldo Alckmin
mandou a polícia baixar o cacete nos primeiros manifestantes. Claro, deve ter
se arrependido amargamente.
A
onda de protestos ainda não acabou; junho ainda não acabou. E não acabou porque
ainda há muito combustível para ser incendiado. Ou seja, o país está um caos;
os desmandos da administração pública ficam cada vez mais ostensivos. A
violência cresce num ritmo apavorante, a impunidade ganha musculatura e a
corrupção desenfreada afronta todo dia o homem honesto.
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