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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 07/04/2015 - A206
Essa
história é verídica. Pela bizarrice do acontecido serão omitidos alguns
detalhes visando à proteção da fonte. O funcionário da construtora foi
designado para trabalhar na administração de uma grande obra no estado vizinho.
As condições salariais, assim como as acomodações do alojamento eram precárias,
obrigando nosso personagem a dormir numa rede por falta de cama. Um ano depois
vieram as férias e a oportunidade de retornar para a casa da mamãe. A famosa
rede, enfim, soube pela primeira vez o que era água e sabão. A mãe do nosso
personagem ralhou com o filho quando viu o tecido duro de tanto grude, e por
tal motivo resolveu deixar a coisa fedorenta de molho por várias horas. O fato
surpreendente ocorreu no momento de dar continuidade à limpeza. Era esfregando
com uma escova e o tecido se esgarçando até ficar imprestável. Ou seja, a
sujeira era tanta que acabou por se tornar parte da estrutura da rede.
Acabou-se a sujeira, acabou-se a rede.
Dias
atrás, o programa jornalístico Profissão Repórter mostrou alguns efeitos
perversos da operação Lava Jato e como a crise da Petrobras mexeu com o emprego
e com a vida de cidades do interior do Brasil. Os escândalos paralisaram obras
de grande porte deixando meio mundo de gente desorientada e sem dinheiro,
contribuindo assim para o agravamento dos problemas sociais. As empresas
envolvidas nos esquemas fraudulentos de doações a partidos políticos estariam
virtualmente impedidas de fechar novos contratos com o governo. Dessa forma,
como fica então a imensa quantidade de projetos em andamento? E se todo mundo
estiver mergulhado no lamaçal, o país vai parar?
Acompanhamos
já um tanto preocupados a expansão e os intermitentes desdobramentos dos
escândalos da Operação Lava Jato. A coisa deixou o perímetro Petrobrás, se
alastrando assim para outras jurisdições e segmentos de atuação governamental,
ficando cada dia mais evidente o fato de que o modus operandi dos esquemas
desbaratados pela Polícia Federal na estatal é apenas uma célula em meio à
vasta estrutura criminosa entranhada até o osso do poder público. Os 300
milhões de reais roubados pelo ladrão Barusco agora foram superados pelos R$
600 mi encontrados na Suíça em conta HSBC de um delegado da Polícia Civil de
São Paulo. E olha que esse pessoal é do tipo peixe pequeno. Imagine então os
grandes, os chefões, os tubarões de boca grande..!! Vivemos dias tenebrosos e talvez
essas coisas nos façam entender o motivo da nossa escorchante carga tributária estar
no patamar de 40% do PIB e mesmo assim não ser suficiente para cobrir os gastos
governamentais. O insistente discurso das autoridades é que nunca tem dinheiro
pra nada. O ministro Joaquim Levy não pára um minuto de recitar o mantra do
aumento de impostos. Enquanto a roubalheira corrói o Brasil, a China está
engolindo o mundo com uma taxação de 23%. Com tantos sobressaltos é possível
que a qualquer momento caia uma bomba nas nossas cabeças duzentas vezes maior
do que todos os escândalos noticiados até agora. Assusta-nos o temor do que
possa haver de eventos abomináveis ainda escondidos do grande público.
De
fato, ao que parece, temos os mais perigosos, imundos e asquerosos homens
públicos do planeta. Gente desprovida de nenhum traço de honra, princípio ou
qualquer sinal de caráter. Nem ditadores sanguinários e genocidas conseguiram
ser tão baixos. Aqui, os nossos políticos fazem qualquer negócio por dinheiro.
Qualquer, mesmo!! Os esquemas corruptos do prefeito Aderbal Pimenta, da novela
Babilônia, estão muito distantes do jogo pesado da vida real.
O
Juiz Sérgio Moro está quebrando o tabu da autoridade intocada ou do político
teflon. Outros investigadores estão se encorajando a seguir na mesma linha de
trabalho. O descaramento e a falta de pudor dos bandidos engravatados se deve
ao fato da máquina pública ser uma engrenagem inteiramente voltada para a
corrupção. Ou seja, a polícia não investigava, o empreiteiro lucrava, o juiz
soltava, o procurador engavetava, o congresso tergiversava, o executivo enganava,
o lobista negociava e o Supremo desencravava um tal de embargo infringente. Resumindo,
uma gigantesca coreografia ultra bem sincronizada. Esse esquema começou a ruir.
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