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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 22/04/2015 - A208
Artigos publicados
A sociedade inglesa
levou 120 anos para se livrar da sujeira do rio Tâmisa. Nós começamos há pouco
tempo o nosso processo de efetivo combate à corrupção. Se quisermos de fato uma
sociedade mais justa, poderemos sanear o nosso ambiente político num espaço de
tempo não tão longo. Somente um ambiente político saudável poderá despertar o
interesse dos homens verdadeiramente honestos e competentes. Só depois disso é
que daremos o nosso salto civilizatório.
Rios
que por décadas receberam toneladas de esgoto acabaram por expulsar toda forma
de vida saudável ao homem, restando somente coisas asquerosas e nojentas, como
vermes, lesmas, bactérias e pragas diversas. Ao longo das margens, outras
criaturas repugnantes completam o pacote: ratos, baratas, urubus etc. Resgatar
cursos d’água estragados pela poluição intensiva é uma verdadeira epopeia. A
colossal tarefa de despoluição do rio Tâmisa (apelidado de O Grande Fedor) só
foi possível devido ao esforço conjunto das autoridades inglesas. Mesmo assim,
foram necessários 120 anos de investimento pesado para permitir o retorno de
uma imensa quantidade de espécies de peixes antes dadas como desaparecidas. A
emblemática recuperação desse rio poderia ser interpretada por muitos como um
avanço civilizatório, uma vez que o povo deixou a podridão lá atrás, nos
sombrios e fedorentos anos de desgraças sociais. A sociedade paulistana ainda
se debate com o problema do rio Tietê, indicando assim que a solução está muito
longe de ser alcançada.
Há
um bom tempo o assunto impeachment ocupa o noticiário nacional, entupindo a
internet com justificativas para sua efetivação. De fato, o Brasil está
mergulhado numa crise política de proporções assustadoras. E os incessantes
escândalos não dão um minuto de trégua para o governo nem descanso para uma
população atônita de tanta roubalheira. Por certo, os nossos homens públicos
estão mergulhados num fedorento lamaçal de vermes, lesmas, bactérias e pragas
diversas. Trocando em miúdos, um ambiente tão cáustico e inóspito que somente
ratos, baratas e urubus se sentem bem acomodados. O bombardeio diário não dá
fôlego nem espaço para reformulações de discursos governamentais ou construção
de propagandas televisivas destinadas a confundir o telespectador. As pessoas
já estão entorpecidas de frustração e ao mesmo tempo consumidas pela
desesperança de um dia ver o poder público livre da corrupção. Ou seja, pelo
andar da carruagem ninguém em sã consciência consegue enxergar uma saída para a
enrascada que o governo se meteu. O estrago está feito.
O
brasileiro simplesmente não tem opção. Se sairmos do fogo vamos cair numa
frigideira de óleo quente, uma vez que o substituto imediato da chefa da nação
é tão ou mais asqueroso. Os comandantes do congresso nacional e do supremo
tribunal federal também são outros tais personagens famigerados no imaginário
coletivo. Dessa forma, há de se questionar o deteriorado caráter dos nossos
homens públicos. Parece que nada de bom pode ser aproveitado, como se tudo
fosse farinha do mesmo saco. Outro fato que merece reflexão é se todo
brasileiro é bandido ou se somente o bandido abraça a causa pública. Muita
gente diz que pessoas sérias e honestas costumam fugir de tudo que envolve
assuntos políticos, tentando assim não se contaminar com gente corrupta. É o
que se pode chamar de vício inerente. Traduzindo, uma coisa é parte inseparável
da outra.
Alguém
pode perguntar: “Onde estão os homens bons?” Outros podem dizer: “Em vez de
reclamar, porque não participar ativamente do sistema político partidário?” A
resposta pode estar no fato de que um peixe sadio colocado no rio Tietê
morreria em pouco tempo. A sujeira do ambiente é tamanha que mesmo toneladas de
peixes saudáveis não seriam suficientes para acabar com a poluição. O procedimento
correto é limpar o rio. À medida que a sujeira for saneada os peixes
naturalmente voltariam para um ambiente mais saudável, mais habitável. E graças
aos céus é isso que no momento estamos vivenciando no Brasil. Todo esse
turbulento processo de investigações e encarceramentos é fundamental para
conferir um choque de realidade aos corruPTos, como se utilizássemos dois
litros de creolina para limpar um banheiro emporcalhado. Esse é o caminho.
Vamos rezar todo dia para que as forças sombrias da nossa política não quebrem
o andamento dos trabalhos da Polícia Federal e, principalmente, do Juiz Sérgio
Moro. Sabemos nós que o alvo da operação Lava Jato é uma corja de bandidos
poderosos e altamente entranhados em tudo quanto é instância e esferas do poder
estatal. Só Deus sabe o tamanho e a amplitude dos esquemas criminosos que
dominam as relações entre o público e o privado.
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