Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 14/07/2015 - A218
O
diretor recém-admitido trouxe consigo a expectativa de alavancagem dos
negócios. As primeiras providências da nova gestão incluíram a reforma completa
da sala do novo chefe, com móveis caríssimos e revestimento do banheiro com
mármore importado. Em seguida, veio um carrão incrementado com motorista e tudo
mais. Para morar, uma mansão num requintado condomínio de luxo. Na pesada conta
das extravagâncias foi acrescentada um alfaiate exclusivo e viagens de férias
para o exterior com toda a família, além da contratação de dois tios e cinco
primos para compor a sua assessoria particular. Por último, o salário do
bonitão era maior do que todos os funcionários do escritório juntos. Esse cenário
surreal é difícil de imaginar e também de engolir, visto que uma empresa
convencional não suportaria tamanho sangramento de caixa. Haveria ainda a
possibilidade de revolta sistematiza entre os empregados pela afronta e
desrespeito, face à ultrajante discrepância de remuneração.
Por
incrível que pareça, coisa duzentas vezes pior acontece na administração
pública, uma vez que além dos infinitos meios de queimar dinheiro público com
extravagâncias administrativas, o erário é sangrado pela foice da corrupção. Mais
incrível mesmo é como aparece tanto dinheiro para suportar o pesadíssimo custeio
da máquina pública. É muito, muito dinheiro. O tamanho do ralo assusta pelas
escabrosidades noticiadas diariamente nos canais midiáticos, sem que se consiga
enxergar nenhuma medida corretiva sobre os desmandos praticados com o dinheiro
abocanhado daqueles que trabalham de sol a sol para sustentar a vida luxuosa de
muitos agentes públicos. No momento de cortar gastos ninguém se lembra dos
salários astronômicos ou das pencas de aspones, ou ainda das gordas verbas de
viagens com hospedagens em hotéis caríssimos. O escândalo da farra com o
dinheiro dos impostos é todo dia jogado na cara do contribuinte sem
constrangimento e sem pudor.
O
erário é um grande úbere com infinitas tetas onde todo mundo está sempre
brigando por mais e mais leite, como se a fonte nunca secasse. Assim, o poder
público segue sua incansável jornada de gastos, mesmo que o preço de tantos
excessos seja a falência o país. O importante é ganhar (ou roubar) o máximo
possível de dinheiro antes do juízo final. O povo grego sabe bem o que é isso.
O governo populista da Grécia tanto fez que jogou o país no abismo econômico e
social. E tudo consequência da gestão temerária da máquina pública. Dentre tantos
equívocos, a Grécia adotou uma política assistencialista exacerbada em vez de
fomentar uma economia de mercado com regras saudáveis e instituições fortes.
Infelizmente,
a nossa gestão pública em muito se assemelha ao modelo grego, com muito
assistencialismo, populismo e descontrole – com o agravante da corrupção
desenfreada. Mesmo assim e com tantos alertas e exemplos ruins, ninguém toma
nenhuma atitude efetiva para tirar o Brasil da rota do precipício. E como a
catástrofe é inevitável, quem pode, está arrumando as malas e fugindo para o
exterior. Aqueles que mamam nas tetas do governo continuarão mamando mais ainda
com exigências de direitos e de compensações variadas. É muita gente puxando a
brasa pra sua sardinha até o fogo se apagar. O que se conclui com tantos
desajustes é que falta ao brasileiro o senso de nacionalidade. Por isso não se
percebe nenhum levante da sociedade para salvar o país da corrupção e da
bandalheira. Talvez se o povo um dia mergulhasse num evento catastrófico irremediável
ele conseguiria enxergar o mal existente na corrupção e na incompetência dos
gestores públicos despreparados.
Por
enquanto, boa parte da administração pública segue seu ritmo de sempre, sem
freios, sem metas, sem parâmetros, sem moral, sem ética, sem seriedade. Os
gastos excessivos do início desse texto seriam contidos no nascedouro, antes da
sua disseminação cancerígena. Isso, porque os donos do dinheiro (acionistas)
agiriam logo nos primeiros sinais de descontrole financeiro. No caso do
governo, os donos do dinheiro (contribuintes) assistem a tudo com uma passividade
bovina, inertes, congelados pela ignorância ou pela cumplicidade. Será que
ainda existe salvação para as nossas almas?
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