quarta-feira, 15 de julho de 2015

CASA DA MÃE JOANA

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 14/07/2015 - A218

O diretor recém-admitido trouxe consigo a expectativa de alavancagem dos negócios. As primeiras providências da nova gestão incluíram a reforma completa da sala do novo chefe, com móveis caríssimos e revestimento do banheiro com mármore importado. Em seguida, veio um carrão incrementado com motorista e tudo mais. Para morar, uma mansão num requintado condomínio de luxo. Na pesada conta das extravagâncias foi acrescentada um alfaiate exclusivo e viagens de férias para o exterior com toda a família, além da contratação de dois tios e cinco primos para compor a sua assessoria particular. Por último, o salário do bonitão era maior do que todos os funcionários do escritório juntos. Esse cenário surreal é difícil de imaginar e também de engolir, visto que uma empresa convencional não suportaria tamanho sangramento de caixa. Haveria ainda a possibilidade de revolta sistematiza entre os empregados pela afronta e desrespeito, face à ultrajante discrepância de remuneração.

Por incrível que pareça, coisa duzentas vezes pior acontece na administração pública, uma vez que além dos infinitos meios de queimar dinheiro público com extravagâncias administrativas, o erário é sangrado pela foice da corrupção. Mais incrível mesmo é como aparece tanto dinheiro para suportar o pesadíssimo custeio da máquina pública. É muito, muito dinheiro. O tamanho do ralo assusta pelas escabrosidades noticiadas diariamente nos canais midiáticos, sem que se consiga enxergar nenhuma medida corretiva sobre os desmandos praticados com o dinheiro abocanhado daqueles que trabalham de sol a sol para sustentar a vida luxuosa de muitos agentes públicos. No momento de cortar gastos ninguém se lembra dos salários astronômicos ou das pencas de aspones, ou ainda das gordas verbas de viagens com hospedagens em hotéis caríssimos. O escândalo da farra com o dinheiro dos impostos é todo dia jogado na cara do contribuinte sem constrangimento e sem pudor.

O erário é um grande úbere com infinitas tetas onde todo mundo está sempre brigando por mais e mais leite, como se a fonte nunca secasse. Assim, o poder público segue sua incansável jornada de gastos, mesmo que o preço de tantos excessos seja a falência o país. O importante é ganhar (ou roubar) o máximo possível de dinheiro antes do juízo final. O povo grego sabe bem o que é isso. O governo populista da Grécia tanto fez que jogou o país no abismo econômico e social. E tudo consequência da gestão temerária da máquina pública. Dentre tantos equívocos, a Grécia adotou uma política assistencialista exacerbada em vez de fomentar uma economia de mercado com regras saudáveis e instituições fortes.

Infelizmente, a nossa gestão pública em muito se assemelha ao modelo grego, com muito assistencialismo, populismo e descontrole – com o agravante da corrupção desenfreada. Mesmo assim e com tantos alertas e exemplos ruins, ninguém toma nenhuma atitude efetiva para tirar o Brasil da rota do precipício. E como a catástrofe é inevitável, quem pode, está arrumando as malas e fugindo para o exterior. Aqueles que mamam nas tetas do governo continuarão mamando mais ainda com exigências de direitos e de compensações variadas. É muita gente puxando a brasa pra sua sardinha até o fogo se apagar. O que se conclui com tantos desajustes é que falta ao brasileiro o senso de nacionalidade. Por isso não se percebe nenhum levante da sociedade para salvar o país da corrupção e da bandalheira. Talvez se o povo um dia mergulhasse num evento catastrófico irremediável ele conseguiria enxergar o mal existente na corrupção e na incompetência dos gestores públicos despreparados.

Por enquanto, boa parte da administração pública segue seu ritmo de sempre, sem freios, sem metas, sem parâmetros, sem moral, sem ética, sem seriedade. Os gastos excessivos do início desse texto seriam contidos no nascedouro, antes da sua disseminação cancerígena. Isso, porque os donos do dinheiro (acionistas) agiriam logo nos primeiros sinais de descontrole financeiro. No caso do governo, os donos do dinheiro (contribuintes) assistem a tudo com uma passividade bovina, inertes, congelados pela ignorância ou pela cumplicidade. Será que ainda existe salvação para as nossas almas?


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