Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 21/07/2015 - A219
A
figura do deus salvador é um arquétipo assentado nas camadas mais profundas da
nossa alma. Somos doutrinados de forma a entregar nosso destino nas mãos de um
tutor divinizado, ao qual devemos submissão absoluta. Talvez por esse motivo
estejamos sempre em busca de um herói de carne e osso. É nessa fenda
psicológica que os políticos entram e fazem a festa. Depositamos nossa
confiança naquelas figuras públicas mais convincentes e os deixamos à vontade
para cumprir sua nobre missão de trabalhar em prol do bem comum. Certa vez um
sábio disse que o mal não mora no mundo; vive exclusivamente no homem. E é
justamente essa natureza perversa entranhada até os ossos do ser humano que joga
por terra o sublime ideário de mentes puras e abnegadas, prontas para servir ao
povo. Seres iluminados habitam o fantástico e fictício universo dos poetas e dos
filósofos sonhadores. Na vida real, o ser humano deve ser tratado como
realmente é. Ou seja, inclinado a toda sorte de tentações. Essa condição
realística nos obriga a sempre confiar desconfiando. Por tais motivos, de forma
alguma, nunca, em nenhum momento, devemos entregar nosso destino nas mãos de
quem quer que seja.
Se
os políticos roubam é porque o povo avaliza tal conduta criminosa. Se a
população não tolerasse a corrupção os agentes públicos se manteriam na linha (causa
e consequência). Todo esse dilúvio de roubalheira desbaratado pela Operação
Lava Jato é consequência do distanciamento entre o público e o privado; entre
os funcionários públicos e o restante da sociedade. Isto é, o povo entregou as
rédeas do país nas mãos do poder público sem constituir nenhuma espécie de
controle efetivo ou acompanhamento das suas ações, deixando-o totalmente livre
para voar. Aí, deu no que deu (a ocasião faz o ladrão).
Na
quarta-feira da semana passada aconteceu um fato extraordinário. A população da
cidade paranaense de Santo Antônio da Platina fechou o comércio mais cedo e
todo mundo se dirigiu à Câmara Municipal para acompanhar a votação do aumento
de salário do prefeito e dos vereadores. No dia anterior, a empresária Adriana
de Oliveira, havia feito uma visita ao parlamento municipal para protestar
contra o tal aumento que seria colocado em votação, onde, inclusive, travou uma
acalorada discussão com o Vereador José Mineiro. A tal briga foi filmada e
divulgada na internet, que rapidamente se espalhou por toda a cidade. A
iniciativa da empresária levou a população a se mobilizar contra mais uma das
barbaridades praticadas pelo poder público. No dia da votação, com o plenário
lotado até o talo de eleitores indignados, os vereadores acharam por bem
reduzir em vez de aumentar as remunerações. Podemos dizer que isso é uma
pequena revolução. O povo tomou uma atitude e foi pra cima com tudo. O povo
tomou as rédeas da situação, não deixando que a politicada torrasse o dinheiro
dos impostos com dispêndios exagerados.
Um
fato ainda mais emblemático aconteceu no dia 18 de janeiro de 1995 na cidade
maranhense de Imperatriz, onde o povo cansado dos abusos da administração
municipal tomou de assalto a sede da prefeitura e ficou lá por uma semana até o
governo estadual nomear um interventor. Esse maravilhoso evento é conhecido
como “Revolução de Janeiro” ou “Revolta Cidadã”, onde a população não se
apequenou diante dos abusos do poder público, mostrando assim quem de fato
mandava na cidade.
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