compartilhe com seus amigos
Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 30/06/2015 - A216
No
dia 8 de outubro de 2013 o prefeito carioca Eduardo Paes comunicou à impressa o
sumiço de seis vigas de aço, as quais foram furtadas de um terreno pertencente
ao Governo do Estado do Rio de Janeiro – cada uma delas com 40 metros de
comprimento e 20 toneladas de peso. Movimentar objetos tão grandiosos exige uma
complexa e demorada logística. Mas, por incrível que pareça ninguém viu nada. Ninguém
viu as vigas sendo içadas por enormes guindastes, ninguém viu um trambolho
monstruoso sendo transportado por caminhões possantes ao longo de várias ruas e
avenidas. É como se um elefante visitasse o shopping sem ser notado. E até onde
se tem notícia, as vigas não foram encontradas.
Esse
caso das vigas é emblemático por descortinar uma espécie de universo paralelo,
onde o crime se desenvolve num ritmo alucinante e num volume incomensurável. E
tudo de modo sorrateiro e imperceptível. O Estado de Direito não consegue
penetrar nessa dimensão alternativa, como se ela estivesse posicionada no
extremo oposto da nossa galáxia. Por tal motivo ninguém é investigado nem
punido. Seria um fenômeno explicado, talvez, pelos filósofos metafísicos ou
pelos cientistas dedicados ao estudo da matemática quântica, em face da patente
e ostensiva incapacidade das autoridades competentes de enxergar os delitos
praticados por criminosos de grosso calibre. O cérebro dos agentes da lei está
programado para detectar arruaceiros e ladrões de galinha (têje preso!). O juiz
Sergio Moro quebrou esse paradigma ao prender políticos e grandes empresários;
algo absolutamente inaceitável para alguns especialistas do Direito.
A
operação Lava Jato comprovou a existência de um Estado dentro do Estado (enclave).
O Brasil possui um Estado Criminoso dentro do Estado de Direito. É como se houvesse
uma célula cancerígena para cada célula sadia (dois corpos ocupando o mesmo
espaço). Assustadoramente, as investigações vêm desbaratando um colossal e
ultra capilarizado esquema criminoso no universo do Poder Público. Os números
monetários são descomunais e a quantidade de figurões citados nas investigações
surpreendeu até o cidadão mais pessimista: uma patifaria elevada à enésima
potência. Para completar o pacote de descalabro, os desdobramentos das
investigações vêm colocando à prova o cinismo e a cara de pau daqueles que
estão sempre amenizando os odores fétidos de cada um dos toletes atirados no
ventilador. É um festival de discursos demagógicos e constrangedores – até a
mandioca já entrou nos anais da nossa história política contemporânea. Essa
patética situação só evidencia o grau de desespero para tentar distrair a
população com fatos pitorescos.
Voltando
ao resultado das investigações da Lava Jato, fica no ar uma pergunta: Como é
que tanto dinheiro criminoso movimentado por tanta gente safada não foi
detectado pelas autoridades competentes? Meses atrás, o comediante americano
John Oliver, do programa televisivo Last Week Tonight, teceu severas críticas aos
fatos levantados pela operação Lava Jato. Aos olhos dos ianques a história toda
é pra lá de absurda; coisa de Coréia do Norte ou Estado Islâmico. Para eles,
corrupção é colocar US$ 5.000,00 num envelope e entregar a alguém. Aqui no
Brasil a cifra alcança a casa dos bilhões de reais. E tem mais. Toda essa
dinheirama transita de mão em mão no mais completo anonimato. Ou seja, nenhum
diretor de estatal nota o desfalque, o COAF não associa tais movimentações com
lavagem de dinheiro e a Receita Federal não estranha a súbita e estratosférica
elevação patrimonial de algumas pessoas. Outros fatos estapafúrdios
complementam esse cenário escalafobético, tais quais: Jatinhos particulares
viajam pra cima e pra baixo com pesados fardos de dinheiro vivo, valores dos
contratos das obras governamentais são reajustados trocentas vezes, financiamento
de campanhas políticas é corrupção legalizada, negociatas acontecem à luz do
dia com cuecas tufadas de dólares etc., etc.
Pois
é. A bandalheira corre solta e absolutamente despreocupada, como se tivesse plena
certeza da inércia das autoridades. Dessa forma, há de se questionar: Afinal de
contas, pra que serve a instituição policial? Pra que serve todo o caríssimo
sistema judiciário? Qual é o papel dos Tribunais de Contas? O que faz o pessoal
da Controladoria Geral da União? E as agências de controle governamental? Por
que ninguém tomou uma atitude quando a manada de elefantes passeava pela praça
de alimentação na hora do almoço?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua mensagem será publicada assim que for liberada. Grato.