terça-feira, 10 de novembro de 2015

ESPECTADORES DA DESGRAÇA

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 10/11/2015 - A232

Nesse ano de 2015, testemunhamos a completa desconstrução das entidades pelo cupim da corrupção. Nem o Vaticano escapou da roubalheira, tão característica do universo político. Parece que o animal da espécie Homo corruptus se proliferou descontroladamente em todo ambiente que circula dinheiro – coisa do tipo: se tem açúcar, tem formiga. A comichão desesperada de roubar o máximo que puder no tempo mais curto possível, combinado com a violenta concorrência de milhões de outros ladrões incumbidos do mesmo propósito, resultou na extinção do restinho de pudor que ainda existia. A demagogia cedeu lugar para o descaramento total e absoluto. O político Eduardo Cunha escancarou geral, criando assim um novo paradigma e uma nova linhagem de homens públicos, caracterizada pelo descortinamento daquilo que sabíamos existir, mas que todos tergiversavam em discursos sofismáticos. Agora, ninguém precisa mais fazer o papel de bonzinho. O safado já pode chutar o pudor pra escanteio e dizer que roubou mesmo, e que continuará roubando. Pode dizer que quer cargos para roubar; pode sair do armário e gritar aos quatro ventos que está na política para corromper, enganar, achacar, passar a perna no colega etc., etc. O jornal inglês Financial Time afirmou semanas atrás (com toda razão) que o sistema político brasileiro é podre.

Nossa política desandou de vez. Quando se olha para o noticiário entupido de bandalheira, parece que estamos vendo um monte de vermes nojentos numa lama preta e fedorenta (a reação de nojo é a mesma). O pior é que o sistema todo está apodrecido: executivo, legislativo, judiciário, polícia, entidades, empreiteiros, bancos, mídia, servidores públicos e diversos profissionais da iniciativa privada, formando uma espécie de Máfia Brasil (tá tudo dominado!!). A pergunta a se fazer é: Como chegamos a esse estado deplorável? E o pior: Como tudo isso vai acabar?

É bom lembrar que os políticos não são alienígenas vindos de Marte. Também, não são entidades oriundas das profundezas do inferno. O político é uma cria parida das massas que o elegeram democraticamente. Lamentavelmente, o bandido está muito bem representado. Ou seja, em vez de focarmos tanto a nossa atenção na bandalheira de parlamentares e governantes, seria conveniente observar o eleitor dessa turma de degenerados. Infelizmente, o velho e batido ditado “cada povo tem o governo que merece” é mais do que válido. Será que um povo honesto elege e reelege várias vezes o mesmo corrupto? Claro que não. Por isso, seria oportuno desenvolver um trabalho de base que investigasse a raiz de tanta desonestidade.

O que mais intriga alguns estudiosos é a passividade da população diante do festival de roubalheira que pipoca diariamente nos diversos canais midiáticos. Parece que ninguém se incomoda com o noticiário; tá todo mundo ocupado com seus afazeres e distante de coisas que não lhe dizem respeito. Outro grupo social pode se achar imune a tantos problemas, uma vez que já providenciaram blindagem para seus carros ou se mudaram para condomínios cercados de seguranças armados. Esse pessoal estando bem, o resto que se vire com seus problemas sociais. Alguns moradores de periferia podem ter sérias dificuldades de compreender os impactos dos possíveis desdobramentos da instabilidade política nas suas vidas. Daí, o que sobra, são uns e outros que protestam nas redes sociais, mas nada que chegue a trincar o bloco de poder corrupto.

A verdade é que temos bastante motivo para preocupações. Do jeito que a coisa toda está se degringolando é possível que o Brasil venha a descambar ladeira abaixo, num processo de venezualização carregado de populismo exacerbado, de violência, desabastecimento, tirania etc. Carros blindados e condomínios fechados não fazem a menor diferença na Venezuela. Lá, tá todo mundo ferrado (ricos e pobres). Por isso é que, nesse exato momento, somos espectadores da desgraça. Estamos de camarote, assistindo à nossa própria destruição sem fazer nada. Os políticos ladrões continuam enviando montanhas de dinheiro para o exterior, a fim de garantir um porto seguro na Florida quando a coisa toda explodir por aqui. Vários e vários brasileiros já foram embora porque sabem que a honestidade não tem lugar no Brasil.



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