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Doutor Imposto
Publicado no Jornal Maskate dia 12/11/2015 - A017
"No
taxation without representation". Em bom português, não pagaremos imposto
se não nos sentirmos representados. Essa frase carrega uma simbologia muito
forte na cultura norte americana, por traduzir a desobediência civil do
espoliado cidadão colonial lá do século XVIII. Na época, os habitantes da
América não tinham representação no distante parlamento britânico e mesmo assim
eram alvo de taxações, contrariando interpretações legais de então. O fato é que,
a questão tributária esteve na raiz da revolução que culminou na independência
dos Estados Unidos. O estopim do levante foi a sabotagem de um valioso
carregamento de chá da British
East India Co., e seus subsequentes desdobramentos. O motivo de tanta revolta:
a opressão tributária.
Curiosamente,
a história dos tributos em várias nações é sempre carregada de muita luta e
muita resistência. No reinado de Pedro, O Grande, foi instituído um serviço
oficial de criação de receitas, representado por pessoas incumbidas de
arquitetar formas mirabolantes de criar tributos. Os legisladores viajaram na
maionese ao instituir impostos sobre nascimento, casamento, funerais,
testamentos, barbas, bigodes, casas, cortiços, camas, banhos, chaminés, água de
beber etc., etc. Para fugir de tanta taxação os russos foram morar nas
florestas; cortaram bigodes e barbas, os quais eram usados somente em dias
festivos. Já, os otomanos, carentes de efetivo em seus exércitos, instituíram o
imposto sobre cabeças (unidas ao corpo), também chamado de colheita de meninos.
Periodicamente, os coletores recolhiam crianças nas vilas para serem utilizadas
como soldados do império.
O
fato é que, se não houver resistência, o poder dominante leva tudo do
contribuinte. Até as suas crianças. Só muito recentemente, a cobrança de
impostos passou a ser tratada com certa normalidade, uma vez que ao longo da
história humana, isso sempre foi sinônimo de tirania e de opressão. Para
quebrar a resistência do contribuinte e conferir legitimidade ao poder de
polícia do agente arrecadador, é necessário que haja uma estrutura de gestão
pública eficiente e com propósitos bem definidos e transparentes. Se isso não
acontece, voltamos todos nós lá para o império otomano. Ou seja, o governo
perde sua legitimidade e, consequentemente, o contribuinte deixa de ser
representado pela quebra do pacto de conduta prescrito em lei.
E
o que ocorre agora, no Brasil? Uma esculhambação generalizada e contaminada até
o último fio de cabelo da gestão pública. São tantos escândalos e tantas histórias
escabrosas de roubalheira, que não conseguimos pensar em nenhum gesto do
funcionalismo público isento de corrupção. Parece que todo e qualquer contrato,
todo pagamento, toda movimentação financeira está contaminada por algum esquema
corrupto. Ou seja, está mais do que claro que a função primeira do poder
público é roubar o dinheiro dos impostos. Sendo assim, não faz sentido nenhum
sacrificar o patrimônio ou deixar de alimentar a própria família para pagar uma
quase centena de tributos. Pagar imposto pra quê? Para sustentar milhões de
ladrões instalados nos órgãos públicos?
O
cidadão honesto, que trabalha de sol a sol para sustentar sua família com
míseros trocados, não pode continuar engolindo tanto desaforo. É preciso tomar
uma atitude. Urgentemente.!!
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