Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 17/11/2015 - A233
A
corrupção é um fenômeno mundial, tendo nos paraísos fiscais o refúgio do
dinheiro ilegal. Autoridades de vários países falavam e falavam que combatiam
esquemas de evasão fiscal, mas na prática faziam vista grossa para operações
irregulares que somam muitos trilhões de dólares abrigados em instituições
financeiras suspeitas mundo afora. O famoso escândalo SwissLeaks expôs o lado
sombrio dos paraísos fiscais, mostrando que o gigantesco volume de recursos
depositados nos cofres do HSBC suíço não vinha somente de pessoas que fugiam
das taxações nos seus países de origem, mas também, de corruptos, traficantes e
terroristas. O funcionário do HSBC, Hervé Falciani, jogou titica no ventilador
ao entregar para as autoridades francesas, dados de 106 mil contas bancárias
suspeitas.
Lá,
em 2010, o governo francês anunciou o compartilhamento das informações obtidas
com o senhor Falciani, mas, curiosamente, até 2015, as autoridades brasileiras
não se interessaram pela lista de correntistas, que poderia ser utilizada em
investigações sobre uma grande variedade de manobras criminosas.
O
fato é que o velho esquema das contas numeradas e secretas foi extinto há mais
de duas décadas, dando lugar a outro, mas sofisticado e mais complexo,
envolvendo empresas de fachada (offshores) localizadas em paraísos fiscais,
como Ilhas Virgens Britânicas, Panamá e Luxemburgo. Ou seja, de certa forma,
perdurou o hábito de proteção da identidade dos depositantes. O lobby dos
poderosíssimos bancos continua firme e forte sobre o parlamento suíço para
manter o velho modelo que tanto seduz milionários de todo o mundo.
Só
uma coisa, então, foi capaz de quebrar o gigantesco poder dos bancos suíços e
desencadear um efetivo programa de combate à corrupção em boa parte do mundo,
principalmente nos Estados Unidos e alguns países europeus. De modo torto e assustador,
as ações terroristas vêm contribuindo decisivamente para a concretização de
políticas anticorrupção. Governos de várias partes do planeta se convenceram de
que o modo mais eficaz de sufocar células terroristas é cortar o fluxo de
dinheiro que as alimenta. Para isso, foi preciso combater todo dinheiro ilegal
que circula entre as nações, tendo como alvo preferencial as contas bancárias de
entidades financeiras sediadas em paraísos fiscais.
Atualmente,
a Suíça mantém tratados de cooperação com diversos países, inclusive o Brasil.
No nosso caso, os bancos suíços só quebram o sigilo dos seus clientes na eventualidade
de investigações criminais por corrupção, tráfico ou algo mais grave. Evasão de
divisas não é considerada crime pelas leis suíças, desobrigando suas
autoridades de repassar informações a requerentes estrangeiros. A exceção fica com
nações mais fortes. Por exemplo, um tratado de cooperação entre Suíça e Reino
Unido permite aos britânicos o acesso à movimentação bancária dos seus cidadãos
nos bancos suíços. O motivo está na legislação tributária inglesa de controle
fiscal sobre movimentações financeiras no exterior. O Brasil, quer por
desinteresse ou resistência das autoridades suíças, não possui o mesmo tipo de acesso.
O
agravamento do medo e da paranoia frente ao crescimento do terrorismo fez
aumentar o rigor dos controles financeiros. Um documento elaborado pela OCDE e
ratificado por dezenas de países prevê a troca automática de informações de
correntistas bancários entre entidades fiscais mundo afora. Desse modo, e ao
que parece, os corruptos dos diversos quadrantes ficarão desnorteados em relação
ao dinheiro sujo obtido de forma criminosa. Em outubro de 2014 o governo suíço
divulgou um programa de compartilhamento automático de informações com os Fiscos
de origem dos correntistas listados em seus bancos. As informações bancárias
(identificação dos titulares, saldos, rendimentos e títulos) deverão começar a
ser transmitidas aos Fiscos estrangeiros em 2018.
Pois
é. De modo estranho, o crime do terrorismo tem contribuído efetivamente para o
combate de outro crime, muito mais perverso e destruidor, que é o crime da
corrupção. Se o modelo proposto pela OCDE fosse adulto, ficaria muito difícil
ao Pedro Barusco esconder em casa quase cem milhões de dólares roubados da
Petrobras. Não fosse a pressão do terrorismo, o Ministério Público brasileiro jamais
teria desmascarado o político Eduardo Cunha.
Possivelmente,
o avanço do Estado Islâmico e a provável infiltração de meio mundo de
terroristas à paisana no território europeu, levarão as autoridades mundiais a
intensificar o controle das operações financeiras internacionais e exigir maior
transparência dos correntistas. Portanto, corruptos e ladrões de todo o mundo,
o cerco tá se fechando.!!
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