Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 24/11/2015 - A234
Por
seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros ou figos
dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos e toda a árvore má
produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar
frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo (Mateus
7:16-19).
Vivemos
o absurdo de aturarmos tanto o presidente da câmara quanto o do senado nos seus
devidos postos, manobrando, intimidando, pintando e bordando, mesmo embrulhados
em seríssimas acusações de delitos diversos. Um deles teve suas ações
escancaradas por diversas provas veiculadas na mídia e mesmo assim a rotina
política segue com a maior normalidade do mundo. O festival de conluios
fisiologistas pipoca em alto e bom som, com uma penca de deputados de vários
matizes apoiando incondicionalmente seu presidente, a despeito do gritante
volume de provas de quebra de decoro, fora outras acusações bem mais graves. Dessa
forma, pode-se perguntar o seguinte: Será que o presidente da câmara deixaria
passar projetos de leis que combatem com rigor os crimes que ele mesmo supostamente
pratica? Claro que não!! Se tomarmos esse caso emblemático como paradigma, iremos
facilmente entender o motivo das nossas leis possuírem redações tão confusas e
cheias de tantas voltas e reviravoltas que levam a lugar nenhum.
Vamos
imaginar que o comandante da casa legislativa seja o maior traficante do
estado. Chega então ao seu gabinete um projeto bem elaborado que se aprovado poderia
ameaçar seriamente seus negócios fora da vida pública. O que fazer então é
propor emendas que venham arruinar os pilares da proposta, de modo a
neutralizar sua eficácia. Fato subsequente, a coisa segue seu rito normal, com
votação, aprovação, publicação e mais uma lei que dá em nada.
Qual
será o motivo de termos estabelecido no Brasil o império da impunidade? Quem
trabalhou intensamente para chegarmos a esse nível de degradação social? De
onde vem essa coisa de réu primário que mata várias pessoas e é solto no dia
seguinte? Que dizer da prisão domiciliar para milionários corruptos? Quais são
os maiores beneficiários desse sistema perverso? Será que o objetivo não é
justamente incutir na cabeça do cidadão a ideia de normalidade? Ou seja, tudo é
normal; mentir é normal; matar é normal; roubar é normal; corrupção é
normalíssimo; o caos é coisa da natureza humana etc., etc. De modo sorrateiro e
maquiavélico, agentes do poder público passam o tempo todo maquinando uma lista
infindável de abominações.
O
repetitivo prende e solta de bandidos, combinado com a deterioração do sistema
prisional e o caos da segurança pública, faz com que o cidadão comum engula com
mais facilidade o vasto arsenal de crimes perpetrados no universo do poder
público. É preciso que as ocorrências de criminalidade aterrorizem a população
até que todo mundo fique num estado petrificado e anestésico. Assim, fica mais
fácil dilapidar o erário.
Pois
é. Todo esse conjunto de abominações maquiavélicas direciona e define o nosso
sistema legal. Pode-se enxergar claramente as intenções maliciosas nas redações
legislativas cheias de infinitas conexões com outros dispositivos legais ou nas
extensas e cansativas utilizações de termos vagos e incompreensíveis,
prontinhos para imunizar os bandidos que as escreveram. Basta lembrar dos
famigerados embargos infringentes. Por isso é que as nossas leis não dizem nada
com nada; não se entende nada e no final das contas só é útil para seus
encomendantes e para os que lucram com a indústria das ações judiciais. Basta
lembrar da Medida Provisória comprada pelas montadoras de veículos (fato nada,
nada isolado).
Lamentavelmente,
cada brasileiro honesto está ferrado e mau pago, considerando o fato de que as
leis que regem a nossa vida são produzidas pela escória da sociedade. A árvore legislativa
está envenenada da raiz até a última folha do último galho, e, obviamente, seus
frutos são terrivelmente nojentos. Por isso é que o Brasil possui um sistema
político podre (como bem definiu o jornal inglês Financial Time). O pior de
toda essa história repugnante é a complacência da população que engole tudo
calada, deixando os políticos bem à vontade para continuarem na patifaria. Na
época das eleições os tontos e retardados reelegem os mesmos bandidos de
sempre. E o ciclo permanece inalterado.
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