quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

CÚMPLICES DA BANDALHEIRA


Doutor Imposto
Publicado no Jornal Maskate dia 10/12/2015 - A020

A recente prisão de um senador da república atiçou a revolta de muitos doutos e eruditos senhores da lei, que viram nesse episódio uma afronta ao “estado de direito”. Afinal de contas, o nosso modelo jurídico não considera a possibilidade de prisão para ricos e poderosos. Esse tipo de penalidade é reservada aos pobres, negros e ladrões de galinha. As leis que regem o nosso querido Brasil possuem duzentas mil escapatórias para facínoras que praticam roubos na casa do milhão pra cima. Por exemplo, os políticos possuem tratamento especialíssimo. Tão especial que o sistema jurídico criou uma grossa blindagem em torno daqueles que habitam os altos círculos do poder. São tantos os detalhes, pormenores, exceções, privilégios e artifícios jurídicos que a politicada se acostumou com a ideia de jamais ser enjaulada. Prova disso, é o quilométrico histórico de processos arquivados envolvendo diversos figurões. Isso dava uma tranquilidade tamanha aos pilantras de colarinho branco que eles deixaram o cinismo de lado, passando a escarnecer e a tripudiar sobre a indignação popular. Daí, o motivo do espanto e da revolta contra as recentes operações da Polícia Federal. Na cabeça de muita gente os ricos e poderosos jamais poderiam ser presos no Brasil. Mas de forma nenhuma!!

Um texto maravilhoso da jornalista Claudia Wallin traça um paralelo entre os modelos políticos brasileiro e sueco. Pra começo de conversa, qualquer cidadão pode apresentar uma denúncia criminal contra qualquer político investido de qualquer cargo público, obrigando as autoridades suecas a adotar os procedimentos investigatórios adequados. Ao contrário do Brasil, nenhum político sueco tem direito a imunidade parlamentar, que na lógica do povo escandinavo nada mais é do que um salvo-conduto para roubar, desviar e achacar. Políticos suecos não têm foro privilegiado – nem mesmo a pessoa investida do mais alto cargo do país.

Na Suécia, nunca houve um caso de suspeita de corrupção contra um presidente do Parlamento. Esse tipo de coisa é absolutamente inadmissível e intolerável. Nas terras frias do norte os políticos são obrigados a se afastar das suas funções até mesmo quando são flagrados numa blitz por beber e dirigir. Aqui no Brasil, o político espanca mulher, estupra meio mundo de ribeirinhas, mostra a bunda pra delegada, atropela e mata no trânsito, rouba, mente, desvia, ameaça, corrompe, achaca e a população encara todas essas barbaridades com a maior naturalidade do mundo.

Para o brasileiro comum não existe motivo nenhum que o faça desistir de votar no seu candidato do coração, o que nos faz acreditar que não existe senso de moralidade no Brasil; não cabe na cabeça de muita gente a noção do bem e do mal. O roubo, a desfaçatez, a corrupção, tudo isso é perfeitamente tolerável e aceitável num político, desde que o eleitor ganhe um pão com mortadela no dia das eleições.

Lamentavelmente, somos obrigados a engolir o fato de que a estrutura corrupta que domina o nosso sistema político é sustentada pela cumplicidade da massa populacional. No dia em que a honestidade pautar a conduta do cidadão brasileiro, todos os políticos bandidos cairão dos seus postos.


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