Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 27 / 12 / 2016 - A279
Parece
que tudo aconteceu em 2016: Impeachment presidencial, detenção do presidente da
câmara, tragédias aéreas, prisões em série de políticos, delação do fim do
mundo, desmoralização do STF, dilaceramento do sistema político etc., etc. E
toda essa maçaroca embrulhada na mais aguda crise financeira das últimas
décadas. Um grande empresário da nossa região declarou que em meio século de atividade
empresarial, esse foi o primeiro ano de demissões em massa no seu grupo
econômico.
Só
agora está ficando patente e ostensivo a verdadeira causa das desgraças que
assolam os serviços públicos. Somente nos últimos tempos as vísceras putrefatas
dos agentes públicos espocaram num sincronismo orquestral. Daí, o fedor
insuportável a empestar o país inteiro. Daí, a razão de tanta decepção de
homens e mulheres que ficaram sem opção diante do tsunami de roubalheira que
começou pelo litoral e chegou até os confins da Amazônia. A raiz de todo mal,
portanto, nada mais é do que a intensiva, sistemática e epidêmica prática da
corrupção. Tanto descontentamento é um prato cheio para os oportunistas de
plantão.
Parece
que nada funciona no Brasil. O regime militar foi demonizado por atrocidades hediondas,
enquanto que a tão sonhada democracia só serviu para formar a maior gangue
criminosa da história da humanidade, com mafiosos perigosíssimos formando uma
única quadrilha instalada em tudo quanto é instância municipal, estadual e
federal; executivo, legislativo, judiciário; empreiteiros, lobistas,
operadores, banqueiros, advogados etc. Todo mundo unido pra roubar. E todos
protegendo a todos. Enquanto um rouba, o outro não investiga, um terceiro não
julga, uma quarta pessoa não pune e assim todo mundo sai ganhando. Dá um embrulho
no estômago quando se vê um bandido de grosso calibre penalizado com prisão
domiciliar (deboche acintoso). Bandido esse, que sozinho rouba o equivalente a
um milhão de assaltantes juntos. O ladrãozinho fuleiro que rouba cem reais é
linchado e preso numa cela imunda, mas quem rouba cem milhões é chamado de
excelência num julgamento de mentirinha. Na percepção do atônito cidadão honesto,
não há um só cantinho limpo; o nível de confiança em TODAS as instituições é
simplesmente ZERO.
O
brasileiro despertou no meio dessa imundície, onde faxineiros oficiais são os
primeiros a emporcalhar o ambiente. O presidente ilegítimo que ocupa a chefia
do executivo federal derrubou sua antecessora por uma questão burocrática
pontual e depois disso trouxe para junto de si uma legião de suspeitos por
crimes pavorosos – um absoluto contrassenso de quem pregava a moralidade da
gestão pública demonizando os atos de corrupção do PT. A gestão Temer veio
reforçar a velha e inexorável política – a velha política dos esquemas sombrios
e tenebrosos. O que o PMDB não contava era com a imberbe maturidade política da
sociedade brasileira, já cansada dos batidos discursos demagógicos.
O
ano de 2016 mostrou que os membros duma sociedade possuem ideias próprias e
que, portanto, não se dispõem a serem conduzidos como rebanho de gado. Os
princípios moralizadores duma sociedade (aquelas doutrinas propaladas na
televisão, nos livros, no ideário coletivo) podem só existir na propaganda. Isso
significa que as pessoas estão ficando refratárias ao dogmatismo alienante.
Isso significa que mesmo debaixo do bombardeio ideológico o indivíduo se volta
para as suas próprias convicções. E depois descobre pelas redes sociais que não
é o único rebelde. Isso explica o fenômeno Trump, bem como o Brexit, o “Não”
Colombiano e outros movimentos sociais que sacodem várias regiões do planeta. A
estrutura de castas está ruindo; as pessoas começam a brigar por um lugar ao
sol. Brigar mesmo. Talvez essa, seja a base das próximas revoluções sociais. É
bom que estejamos preparados para administrar um completo desalinhamento de
princípios morais e cívicos. Os jovens, principalmente, não estão dispostos a
ser tratados como cidadãos de segunda classe.
Os
volumosos comentários das redes sociais evidenciam uma intolerância prestes a
explodir numa revolta popular. Mesmo assim, os ladrões não param nem por um
minuto de roubar. A bandidagem corre contra o tempo porque sabe que a coisa
pode feder num futuro próximo.
É
possível que toda essa turbulência de 2016 seja a primeira duma sequência de
abalos sísmicos que irão revolver as nossas estruturas sociais e políticas.
Sendo assim, que venham muitos rebuliços e confusões. Queira Deus, o Brasil
tenha alguma chance de se salvar.
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