terça-feira, 11 de abril de 2017

FRANKENSTÊNNICA TCIF


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 11 / 4 / 2017 - A292

A audiência pública ocorrida semana passada na ALEAM para discutir as disposições da MP 757 serviu para constatar um dos grandes males da nossa burocracia governamental, que é a total desconexão do texto normativo com a operacionalidade cotidiana das empresas. No caso específico, o legislador não sabe como funciona a cadeia de suprimento de uma indústria ou comércio. Cinquenta anos se passaram e até agora os funcionários da Suframa desconhecem os efeitos práticos das normas por eles criadas. Prova disso, está na frankenstênnica Taxa de Controle de Incentivos Fiscais já toda remendada depois das sandices inventadas por burocratas inconsequentes. Será que ninguém imaginou que essa coisa de exigir pagamento antecipado iria embolotar todo o processo logístico de aquisições de mercadorias? Pois é. Só depois de muito prejuízo e aborrecimento é que a Suframa corrigiu a rocambolesca exigência.

No dito evento da ALEAM a senadora e a superintendente ficaram patinando no ensaboado terreno das justificativas desconcertantes. O que elas não reconheceram foi o papelão legislativo que embrulhou a MP 757 num embaraço técnico. Agora, estão trocando braços, substituindo pernas, pintando o cabelo e atarraxando novas orelhas no desengonçado monstrengo que criaram. O pior de tudo é que o bicho fica mais feio a cada nova Portaria ou novo Remendo.

A pergunta que se faz é a seguinte: Por que complicar uma coisa que poderia ser simples e objetiva? Talvez a resposta esteja numa radical mudança de postura quanto ao alvo tributário. O caráter fiscal mudou de progressivo para regressivo. Parece que quiseram copiar as práticas da Sefaz. A sistemática da TSA era progressiva, com valores que iam de R$6,61 até R$15.412,62 numa tabela de vinte e oito níveis de enquadramentos tributários. A TCIF virou tudo pelo avesso ao colocar todo mundo no mesmo nível. E como é sabido e notório, toda regressividade encerra um caráter perverso. Quem está rindo para as paredes são as grandes empresas, uma vez que o custo desabou; ao contrário das empresas menores, que viram seu custo subir para a estratosfera.

Explica-se.

O simulador disponível no site da Suframa mostra a NF1 de três itens com valor de R$500.000,00 cuja TCIF resulta em R$290,00. Considerando a possibilidade de haver somente um item o valor da TCIF cai para R$230,00. Pela TSA, esse valor ficaria em R$15.412,62.

No mesmo dito cujo simulador consta a NF3 de cinco itens com valor de R$47.900,00. Caso se altere cada um dos itens para R$2.000,00 a planilha muda o total para R$10.000,00 e com isso calcula a TCIF em R$300,00. Pela TSA, esse valor ficaria em R$139,27.

Resumo da ópera: As empresas menores foram sacrificadas para beneficiar os grandes conglomerados econômicos da nossa região. Alguém sempre paga o pato. E esse alguém é sempre aquele de menor capacidade financeira. Tal paradigma se aplica a toda e qualquer política fiscal de todo e qualquer tributo. O governo não costuma cutucar a onça com vara curta porque sabe que os poderosos respondem com avalanches de ações judiciais. Por isso aponta toda artilharia para os pequenos desassistidos de consultorias onerosas. Corre na internet uma chuva de denúncias sobre os zilhões de dívidas fiscais das maiores empresas do país. E mesmo assim, o governo não se mexe para cobrar tanto dinheiro; preferindo se dedicar a invencionices maquiavélicas para arrancar os trapos dos espoliados.

Outro detalhe curioso. O artigo 21 da Portaria 61/2017 estabelece regras para restituição e compensação decorrentes de cobranças indevidas. O detalhamento se estende até o artigo 23 sem nenhuma menção de prazo. Ou seja, essa omissão permite que a Suframa demore anos para ressarcir um contribuinte. Talvez por isso a TCIF ficou tão complicada. A intenção é exatamente gerar uma fabulosa receita de “erros” porque muitas empresas não vão conferir o complexo cálculo da cobrança. Uma nota fiscal pode ter até 999 itens, sendo que a TCIF é individualmente calculada sobre cada um desses itens. As confusões já começaram, com empresas ingressando pedidos de ressarcimento decorrentes de cobranças indevidas sobre uma legislação que entrou em vigou há poucos dias. Os computadores já estão programados para cometer muitos erros. Esse benchmarking foi importado da Sefaz, que tem represado no seu caixa muito dinheiro alheio (milhões e milhões).











Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua mensagem será publicada assim que for liberada. Grato.