terça-feira, 18 de abril de 2017

SOMOS TODOS BANDIDOS?


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 18 / 4 / 2017 - A293

No episódio da Operação Carne Fraca, muitas vozes se levantaram contra a operação da Polícia Federal alegando que a divulgação do escândalo prejudicara sobremaneira todo o sistema econômico do país. Um eminente figurão da república chegou a classificar o evento como crime de lesa-pátria. Essas mesmas pessoas estão agora inconformadas com os relatos dos delatores da Odebrecht porque esse tipo de coisa piora o nosso fragilizado ambiente de negócios. Ou seja, na visão desses observadores críticos não se deve mexer nas estruturas corruptas que comandam o país porque isso compromete a tal da governabilidade. O melhor a fazer, seria deixar a bandidagem seguir na sua rotina delinquente. Mesmo porque, acima de qualquer moralismo ou denuncialismo panfletário pesa o interesse em negócios frequentemente espúrios com o poder público. Além do mais, todo mundo sabe que ninguém prospera no Brasil que não seja através de caminhos tortuosos. Essa lição é aprendida desde cedo: O sucesso é reservado para pessoas de estômago forte e de muito sangue frio. Por outro lado, o fracasso é destinado aos idealistas que adotam causas perdidas e cães solitários (honestos de fato honestos). Tais sonhadores seguem atropelados pela realidade espinhosa da mentira, do logramento, da fraude, da corrupção, do crime. O grão-mestre da esperteza é aquele que sempre consegue se safar; é o indivíduo que faz curvas perigosas sem despencar no abismo de alguma denúncia grave. Se ao longo do caminho deletério não acontecer nenhuma desgraça, pouco importará os meios utilizados, desde que a soma dos resultados seja de tal monta a deixar muito invejoso revoltado. Mesmo porque, ninguém faz perguntas inconvenientes aos vitoriosos.

Nenhum esquema corrupto de extremada magnitude sobreviveria sem o consentimento de uma sociedade hipócrita e adepta dum pragmatismo amoral. Quando se trata de dinheiro ou do quanto a pessoa está se dando bem, pouco importa a falta de recursos nas escolas ou nos hospitais. Que as crianças passem fome ou que os pobres morram sem atendimento médico, isso não tem a menor importância. Ou seja, todo aquele aprendizado filosófico/religioso de princípios morais e coisa e tal, é tudo conversa pra boi dormir. No final das contas, o pai abre o jogo para o filho e diz: Se você não mentir, roubar e enganar, não vai conseguir nada na vida. Isso está bem claro nas dinastias cleptocráticas denunciadas pela Operação Lava Jato (famílias de políticos embrulhadas na safadeza). A pergunta que se faz é a seguinte: Quanto de honestidade e de honradez existente no ideário coletivo norteia de fato a conduta do povo brasileiro?

O que se sabe é que a propaganda na TV é linda – mostra uma nação de gente decente, trabalhadora e feliz. Mas, como uma sociedade tão magnânima avaliza um sistema institucional inteiramente corrupto? Como é que ninguém se levanta contra a roubalheira? Como explicar o fenômeno das dinastias políticas que se perpetuam no poder? Como entender a cabeça dum povo que sempre vota nos mesmos ladrões de sempre? Como é que empreiteiros se aliam com a corrupção que deveriam combater? Que direito tem os empresários de reclamar dos corruptos se eles comem no mesmo cocho lamacento?

O problema é de tamanha complexidade que a solução fica emparedada pelos hábitos enraizados do vassalo dominado por convicções equivocadas. Chuvas e trovões de denúncias não mudam a opinião de muita gente que defende com unhas e dentes o seu político preferido. O fato mais preocupante dessa persuasão íntima está na certeza do caráter delituoso do político idolatrado. O inusitado da coisa nos leva a concluir que um indivíduo verdadeiramente honesto não pode compactuar com a desonestidade. Alguns desses posicionamentos absurdos podem advir de pessoas sem muita instrução, mas também se origina de intelectuais, artistas, empresários etc. Tanta esquisitice alastrada pelos quatro cantos do país nos faz lembrar que a verdadeira mudança será feita por cidadãos que ainda não nasceram, visto que, para mudar um homem é preciso começar pela avó dele. Enquanto isso, os ladrões continuarão debochando dos abestados.











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