Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 25 / 4 / 2017 - A294
Distribuída
por várias regiões duma importante megalópole, diversas organizações criminosas
se rivalizavam numa medida tal que as práticas delituosas consolidavam uma
espécie de estado paralelo. Os chefões sabiam que sangrentas disputas facciosas
fortaleciam a ordem constituída e os agentes da lei. Daí, o pacto de proteção
mútua entre bandidos. Todas as vezes que uma quadrilha era desbaratada por investigadores
policiais, os outros núcleos criminosos se articulavam de modo a neutralizar
todo o trabalho investigativo. Com isso, garantiam a imediata recomposição da
estrutura danificada. Passado um tempo, tudo voltava ao seu ritmo normal. Isto
é, o tráfico voltava a traficar, os assassinos a assassinar, os milicianos a achacar,
os ladrões a roubar etc. Por décadas, a polícia travou uma luta inglória até
concluir que ações localizadas não surtiam efeitos definitivos por causa da
impressionante capacidade regenerativa das organizações criminosas. Foi depois
de um longo e exaustivo planejamento estratégico que aconteceram ataques
intensivos e simultâneos aos centros operacionais e financeiros do crime
organizado. Tudo aconteceu de tal modo que o tronco espinhal dos malfeitores
foi esfacelado.
Por
décadas, vem imperando no Brasil uma gigantesca e capilarizada organização
criminosa que de tão sedimentada nas práticas burocráticas dos agentes públicos
acabou sendo incorporada pela cultura popular. Ou seja, todo mundo sabe
exatamente como a coisa pública funciona. Não é segredo pra ninguém o modus
operandi dos processos licitatórios. Qualquer pessoa tem plena consciência da
ladroagem que acontece no meio político. E tudo isso é algo absolutamente
corriqueiro. Estranho, estranhíssimo, é ver um processo tramitar num órgão
público sem necessidade de propina. Por isso é que a profissão de
“desenrolador” ou de “solucionador” é uma das mais vicejantes. Essas pessoas
estão sempre a postos para “fazer acontecer”. Claro, obvio, tudo por um
precinho camarada. Agora, mesmo, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Sustentabilidade está amarrando um processo absolutamente descabido de abertura
de empresa numa região que concentra uns duzentos estabelecimentos comerciais.
A SEMMAS permitiu a instalação de centenas de negócios, mas está impendido um deles
de funcionar. O processo iniciou no DEGTA. Depois, foi para o DIGEO. Em
seguida, para o DELIC, quando o senhor Keppler comunicou ao requerente que
aconteceu um erro de procedimento da SEMMAS e por isso o processo voltou ao
DEGTA. O senhor Keppler não tem noção nenhuma de quanto tempo o processo continuará
tramitando. Há meses, o dito processo se arrasta e Deus sabe quantos meses
ainda vai se arrastar. O motivo de tanto atraso está na rigidez do requerente de
não dá propina pra ninguém. Claro, num país entupido de bandidos, esse futuro
empresário vai ter muita dor de cabeça com os órgãos públicos. A prefeitura de
Manaus não oferece nenhum mecanismo neutralizador de práticas condenáveis que
tenha efeito instantâneo.
Na
sequência interminável de delações que ocupa o noticiário por inteiro, fica a
impressão de que a Odebrecht é a grande vilã da história e que os funcionários
públicos são vítimas do implacável aliciamento da construtora. Na realidade, o quadro
é justamente ao contrário. Por que a Odebrecht resolveu fazer uma super mega
delação premiada? A intenção é implodir a República; detonar o Sistema Público
por inteiro porque TUDO está contaminado até o osso. Um detalhe importantíssimo:
O poder sempre se protege. Na hora que a bomba explode, todo o Sistema Público
se une numa imensa e sinérgica retaliação contra o delator. O episódio do
Mensalão ilustra com absoluta nitidez como políticos, juízes, procuradores,
ministros e agentes de diversas esferas e instâncias se blindaram uns aos
outros para garantir a manutenção do estado cleptocrático. No final das contas,
somente o operador Marcos Valério se ferrou, enquanto toda a cambada de agentes
públicos se safou.
Ciente
da colossal força dessa ultra mega Estrutura Mafiosa travestida de Poder
Público, o diretor Marcelo Odebrecht desencadeou um brutal e intensivo ataque
com milhares de bombas denunciadoras lançadas ininterruptamente através dos
diversos canais midiáticos. Estrategicamente, as investidas estão acontecendo
em etapas meticulosamente calculadas para causar o máximo de estrago possível:
Vieram os depoimentos. Em seguida, será mostrada uma farta documentação e,
depois, quem sabe, áudios e vídeos das negociatas. Importante, é não parar. Mesmo
porque, uma semana sem Odebrecht na televisão e os bandidos voltam a falar
grosso. Nas vaticinadoras palavras do empreiteiro: Se ela cai, eu caio.
Tradução: Se eu caio, todos caem comigo. The show must go on.
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