Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 23 / 7 / 2019 - A368
Os
projetos de reforma tributária mais relevantes tropeçam nos mesmos entraves. Isto
é, intensificam a regressividade e não apontam caminhos que assegurem a redução
da burocracia fiscal. Outro fato curioso está relacionado ao currículo dos
idealizadores das propostas em discussão. Quem está com a mão na massa insalubre
das rotinas fisco tributárias sabe muito bem onde o sapato aperta. Contadores e
empresários, por exemplo, conhecem como ninguém o mapa dos excessos normativos,
mas quem está pilotando as grandes mudanças são pessoas que não emitem nota
fiscal, não perdem o sono preocupadas com impostos vencidos e também não precisam
fazer malabarismos para cumprir a maçaroca de obrigações principais e
acessórias. Quem está escrevendo o destino tributário da nação é um grupo de
teóricos que vive no abstrato terreno das leis. O problema acontece quando o
conteúdo legislativo é transformado em procedimentos operacionais pelas equipes
técnicas do governo. É nesse momento que começa o pipoco de broncas que
inferniza a rotina das empresas.
As
pessoas que estão ardendo na fogueira da burocracia tributária sabem muito bem
que a transição para o IBS vai piorar o que está ruim porque haverá dos modelos
tributários caminhando em paralelo. O retrospecto de invencionices atabalhoadas
ocorridas nas últimas décadas nos faz imaginar a maluquice técnica que será empurrada
goela abaixo das empresas se for aprovada a PEC45. A certeza que temos é que os
burocratas governamentais vão buscar as formas mais complicadas para fazer a transição.
Os
habitantes da fogueira (empresários e contadores) sonham com o dia em que a
objetividade assuma o protagonismo do sistema tributário nacional. A empresa
quer segurança jurídica para investir em projetos de longo prazo. Hoje, o Brasil
é o pior lugar do mundo civilizado para fazer negócios por causa do ambiente
legal instável e incompreensível. O fato mais preocupante da discussão em torno
da Reforma Tributária é que tudo está sendo comandado por burocratas. O burocrata
é filho da burocracia e por isso mesmo não vai matar a própria mãe. A
burocracia é a fonte que confere poderes titânicos ao burocrata. A burocracia
entope os órgãos governamentais de funcionários que ganham salários nababescos.
Se a burocracia cair, caem os burocratas.
Um
dos pilares mais representativos da burocracia tributária está no sistema da
não cumulatividade. No dia em que os tributos indiretos forem exclusivamente
cumulativos, a Sefaz poderia tranquilamente demitir metade dos seus funcionários.
As maiores confusões e explosões de tarefas cotidianas nas empresas e nos entes
fazendários são originados dos controles e das questões envolvendo débito
versus crédito. Se tudo fosse cumulativo e se tudo fosse “por fora”, com
certeza, nos livraríamos de 80% da carga burocrática. Um grande exemplo desse
efeito simplificador está no regime da substituição tributária, que, apesar de
polêmico, é capaz de conferir uma tranquilidade sem igual ao empresário quando
comparado ao regime normal do ICMS. A substituição tributária já teve uma qualidade
tranquilizadora pelo seu caráter terminativo. O RE 593849 STF é que chafurdou a
questão.
O
ideal é que o tributo sobre consumo fosse de fato um tributo sobre consumo cobrado
no destino, mas ICMS Pis Cofins IPI ocorrem também na produção e na origem. Como
é impossível mudar esse quadro, que ao menos fosse feito o seguinte: o estado
de origem taxaria a operação de venda para outra unidade federativa e o estado
de destino cobraria o imposto na entrada, como acontece hoje no regime do ICMS-ST.
Seria extinto o modelo da não cumulatividade e o próprio conceito de IVA. Mas,
obviamente, uma ideia como essa tem um problema gravíssimo porque daria um tiro
mortal no coração da burocracia. Milhões de funcionários públicos deixariam de molestar
contribuintes e o propinolismo morreria de inanição. As empresas se livrariam das
pesadas correntes burocráticas que hoje emperram o avanço econômico e os
advogados superstar veriam emagrecer o fluxo milionário de receita pela redução
drástica do contencioso fiscal. No país da malandragem e da esperteza, nunca,
jamais, seria possível acontecer uma coisa dessas. O que presenciamos é uma
sociedade obcecada pela burocracia, que sempre procura o caminho mais tortuoso e
mais acidentado. O Brasil precisa de tratamento psiquiátrico. Curta e siga
@doutorimposto
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