Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 22/10/2013 - A143
Na
quinta-feira última, o Jornal da Globo exibiu uma reportagem que ilustra de
forma cabal o nível extremo que chegou o descontrole fiscal no Brasil. A
matéria tratou do lançamento do vídeo game Playstation 4, da Sony, cujo preço
estimado para venda ao consumidor será de R$ 4.000,00. Com esse valor em mãos é
possível viajar para Miami, comprar o PS4 por lá, ficar três dias hospedado num
hotel simples, voltar para o Brasil e ainda sobrar um bom trocado. A Sony
argumenta que isso acontece por causa da alta carga tributária do país. A
reportagem mostra que, além do mais, pesa também o famigerado Custo Brasil e
uma de Taxa de Insegurança Jurídica, consequência da preocupação das empresas
com a política intervencionista do governo. O preço do PS4 nos Estados Unidos é
de US$ 399,00. Dessa forma, fica no ar a suspeita de que a Sony se aproveitou
da balbúrdia tributária para vender o seu produto pelo maior preço do planeta.
O pior é que dificilmente alguém conseguiria encontrar justificativas
absolutamente incontestáveis para provar que a empresa está errada na sua
argumentação.
Nem
todos podem se proteger do campo minado que se tornou o nosso sistema
tributário. O empresário que está diariamente labutando para manter vivo o seu
negócio é obrigado a se virar nos trinta diante do tsunami fiscal que invade a
sua loja, levando embora o seu dinheiro, suas mercadorias, seu patrimônio etc. A
pressão é tamanha e é constante. Lembra o indivíduo que depois de usar toda a
pasta de dente, continua a espremer, espremer, espremer. Quando não tem mais
nada ele aperta o bico do tubo com um alicate para sair mais um pouquinho. É
assim que se comportam os entes fazendários. Por exemplo, o tributo Finsocial,
posteriormente rebatizado de Cofins, foi instituído pelo Decreto-Lei 1940/82
com alíquota inicial de 0,5% onde após sucessivas e intermináveis majorações
chegou aos atuais 7,6%. Ou seja, simplesmente aumentou 1.420%. E o governo não
está satisfeito. Outro caso emblemático se refere ao prazo de recolhimento do
PIS, em cujo Boletim IOB 26/1987 consta o prazo de seis meses para o devido recolhimento
aos cofres públicos. O prazo foi diminuindo, diminuindo até ser cobrado
antecipadamente via sistema monofásico. Ou seja, a nossa política fiscal é
resultado da perversa combinação aumento de carga com prazo apertado. Não seria
de se estranhar se o governo resolvesse cobrar todos os impostos do ano logo em
janeiro. Portanto, o fisco começou a apertar, pressionar, sufocar; foi gostando
da brincadeira. E assim, enquanto não houver um levante empresarial a coisa só
tende a piorar.
O
desespero é geral; tradicionais famílias de comerciantes estão vendo morrer o
sonho dos seus ancestrais e os novos empreendedores lutam desesperadamente contra
a mão abortiva do fisco. Como se não bastasse o peso da carga tributária faz-se
presente na alma empresarial as enlouquecidas obrigações acessórias como um
espírito maligno a infernizar a vida de quem trabalha. O cipoal entrelaçado da
multiplicidade desmedida dos controles impostos pela legislação tributária é
absolutamente impraticável. Isso é percebido quando se busca informações nas entidades
fazendárias onde é possível constatar que os funcionários não conseguem explicar
para o contribuinte as regras que eles mesmos criam. Lidar diariamente com
assuntos burocráticos/fiscais nesses órgãos é sentir na carne o pleno
significado da palavra inferno.
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