Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 01/10/2013 - A140
O
tempestuoso Odorico Paraguaçu, personagem caricato e realista criado pelo
iluminado Dias Gomes, é a representação fidedigna do político brasileiro.
Através do filme O Bem Amado é possível enxergar os bastidores rocambolescos da
administração pública. O aspecto mais curioso do filme está na forma habilidosa
que prefeito esgrime seu vocabulário enrolativo, o que lhe permite contornar
situações complicadas que ele mesmo cria – tudo é resolvido no gogó.
Há
um exercício de observação superinteressante de se fazer, que é simplesmente
assistir aos discursos dos nossos honoráveis homens públicos. Impressiona constatar
inacreditáveis verossimilhanças em todo o desenrolar das suas peças de
oratória; também, há paralelos nos gestos, nas expressões e até no figurino.
Parece que todo mundo veio da mesma escola de arte embromática. Assim, o tempo
passa, novas gerações chegam e tudo continua como dantes. Ou seja, ninguém
apresenta algo inédito e revolucionário como, por exemplo, um discurso honesto.
Pois
é, a nossa amada e idolatrada presidenta, egressa da mesma escola do prefeito
Odorico, inutilmente, tentou convencer um grupo de homens de negócios a
investir altíssimas quantias de dinheiro em projetos de grande envergadura aqui
no Brasil. Esse fato ocorreu na semana passada em Nova York, num evento
promovido pelo banco de investimentos Goldman Sachs. Na ocasião, ficou evidente
que o maior receio dos investidores está na insegurança jurídica encravada no
instável ambiente de negócios brasileiro.
De
acordo com os cânones preestabelecidos, entende-se que a segurança jurídica
deve existir para que a justiça, finalidade maior do Direito, se concretize. Ou
seja, o Direito deve garantir que as relações sociais sejam pautadas na certeza
das consequências dos atos praticados.
Como
foi amplamente noticiado pela imprensa, a presidente Dilma assegurou para os
investidores que não há risco de insegurança jurídica no Brasil. De acordo com
o Diário Catarinense, as garantias verbais não foram suficientes para convencer
os investidores, os quais saíram do evento com as mesmas incertezas que
carregavam ao entrar. Pois é. A lábia odoriqueira não colou. Teria sido
aconselhável que algum assessor lembrasse a presidente que ela não estava na
cidade de Sucupira, e que para convencer uma plateia esclarecida, talvez fosse
recomendado adotar um tom mais sério ao discurso.
Como
é possível alguém afirmar que não existe insegurança jurídica no Brasil, se
esse é o nosso maior e mais ostensivo problema? É tão imenso que, como a grande
muralha da China, pode ser avistado do espaço. E a prova mais contundente dessa
ostensividade está sendo diariamente jogada na nossa cara, que é o escandaloso
processo do mensalão, o qual foi destinado à eternidade pelos embargos
infringentes. O que dizer então dos super salários do Senado? O que dizer do
campo minado que se tornou a legislação tributária? O que dizer da
estratosférica arrecadação de impostos que ninguém sabe pra onde vai o
dinheiro? O que dizer da sensação de impunidade que sufoca e humilha o povo? Cadê
a concretização da justiça?
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