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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 28/10/2014 - A189
Apesar
de a presidente eleita ter dito que não acredita num país dividido, sem sombra
de dúvida é isso que vivemos nesse exato momento. Nunca um processo eleitoral
se mostrou tão acirrado e com tanta gente engajada de ambos os lados e de
posicionamentos tão antagônicos. Parece que acabamos de travar uma guerra
sangrenta, com muita destruição de sonhos e afloramento de profundas mágoas e
rancores por todos os cantos de um Brasil dominado por um ardiloso e aparelhado
sistema de governo. Todo esse turbulento embate finalizado na noite de domingo
revelou um cenário que talvez estivesse encoberto por nossa paralisia de
paradigma e por nossa indiferença ao mundo que nos cerca. Ficou claro que ainda
existe uma profunda descrença da população no sistema político governamental,
apesar do imenso contingente de pessoas esclarecidas, que graças à internet
alçou alguns degraus no estágio civilizatório. Infelizmente, uma grande massa
populacional continuou num estado letárgico, com os sentidos entorpecidos por
tantas desilusões com os maus homens da política. Para esse povo esquecido
pelos governos lá do passado, o que vale são as ações práticas, palpáveis e
efetivas vividas de uns anos para cá. Ou seja, comida, moradia, estudo e
atenção do poder público nunca antes experimentada. O PT fez na prática o que
os anteriores faziam na teoria. Basta lembrar a história do “bolo” nunca
repartido do Delfim Neto.
Os
sinais da péssima imagem que a classe política têm junto à sociedade já são
perceptíveis há muito tempo. Basta lembrar do Deputado Clodovil e do Palhaço
Tiririca. É como se o povo, ao votar nessas figuras exóticas, quisesse dar um
recado ao poder público. Ou seja, um absoluto e total voto de descrédito aos
políticos de forma geral. O pior é que tanto a postura insólita do Clodovil
quanto as presepadas do Tiririca se mostraram no final das contas o menorzinho
dos defeitos diante das bandalheiras barra pesada daqueles homens de porte
impecável. Esses, sim – essas figuras tradicionalíssimas e educadíssimas...
Esses, são venenosamente mortais. Essas criaturas têm o poder de matar o país
com seus monumentais esquemas de bandidagem. Portanto, de bandido pra bandido,
eu vou votar em quem olhou para mim. Nada mais justo.
Daí,
o estado anestésico diante da enxurrada de escândalos e denúncias sem fim
vivido nos últimos meses. Daí, também, a perplexidade daqueles que não dependem
de benefícios governamentais e que, portanto estão livres para pensar. Há
também o grupo de cidadãos esclarecidos e emancipados que talvez por motivos
ideológicos ou de rejeição se juntaram à maioria. Sabe-se lá o que passa na
cabeça das pessoas.
O
resultado dessa eleição deve servir de combustível para impulsionar nosso senso
de cidadania e de efetiva participação política, visto que a chacoalhada foi
violenta. Ou seja, devemos fazer marcação cerrada nos passos dos governantes
(todos eles): monitorar, fiscalizar, cobrar, protestar e principalmente se
organizar na forma de grupos formalizados. Na realidade, já está mais do que na
hora de deixarmos de ser uma nação de tutelados e passarmos a reivindicar o
nosso papel de protagonista do sistema político governamental. Para isso, basta
sair da zona de conforto; criar grupos de discussão com a vizinhança, construir
Blogs, procurar saber do funcionamento das estruturas dos entes públicos, como
prefeitura, câmara, assembleias legislativas, secretarias etc. E aprender a
fazer cobranças e botar esses funcionários públicos para trabalhar... Ir para a
televisão, denunciar, promover eventos; enfim, não dar sossego para o poder
público.
Os
prognósticos sombrios elencados pelos doutos e eruditos formadores de opinião
sobre o governo reeleito só se concretizarão se o povo permitir. Ou se pelo
menos a parte vencida permitir. As forças de contrapeso devem, sim, nesse
momento adquirir uma postura pró ativa e assim agir de forma a não deixar que
nosso país seja transformado numa Venezuela ou numa Cuba. A guerra santa do
período eleitoral deve se transformar agora numa batalha implacável contra a
corrupção e contra o aparelhamento do Estado Brasileiro. E também numa luta
contra a pobreza e a favor da moralização política.
Mesmo
que o empenho de muita gente lúcida não tenha sido suficiente para mudarmos o
Brasil, não devemos esmorecer. Temos quatro anos de muito trabalho. Não vamos
deixar que a bandalheira política destrua o país.
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#Eleições2014
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