Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 31 / 3 / 2017 - A290
Um
ventríloquo habilidoso é capaz de ficar totalmente apagado enquanto a plateia
concentra toda atenção no boneco falastrão. Simbiose dessa mesma natureza
acontece quando a Assembleia Legislativa é habilmente manipulada pela
ventríloqua Sefaz. Os doze bonecos que aumentaram o ICMS da gasolina foram
perfeitos nos movimentos mecânicos de braços e pernas e bocas – parecia até que
eram pessoas de verdade. Ninguém na plateia conseguiu notar o controle da Sefaz
sobre a gesticulação dos parlamentares. Mas também, pudera..!! No quesito
manipulação, a Sefaz é macaca velha com altíssima quilometragem no currículo.
Mesmo porque, a ALEAM é uma espécie de quintal da Sefaz. Daí, que TODOS os
caprichos e devaneios da Sefaz são automaticamente transformados em lei. Ela
não perde uma. Por outro lado, os comerciantes mais se parecem com a seleção
brasileira do fatídico 7 X 1 contra a Alemanha. Ou seja, todo o empresariado em
campo absolutamente desarticulado e perdido enquanto a organizadíssima Sefaz
metia um gol atrás do outro (vexame desonroso).
O lado mais desconcertante dessa história fica no vestiário depois do jogo,
com todos escondendo a cara ou inventando justificativas para atenuar mais uma
derrota. Isso lembra a história dos ratos que numa reunião ordinária decidiram
colocar um sino no pescoço do gato. A ideia era ótima, mas inexequível. O gato
sempre levava a melhor.
Dias
atrás, o secretário da Sefaz, senhor Jorge Jatahy, afirmou que “para
contra-argumentar precisa de dado técnico”. O secretário está coberto de razão.
Há muito tempo eu, Reginaldo, insisto na criação dum Núcleo de Altos Estudos
Tributários que teria a função primordial de destrinchar a legislação
tributária. Isto é, detectar falhas estruturais; identificar ilegalidades
normativas e propor reformulações numa gama variada de textos legais. A FIEAM
possui uma rica experiência com seu grupo de estudos tributários, comandado
pelo tributarista Moises Silva. Por isso é que a Sefaz dispensa um respeito
especial à FIEAM. A indústria reclama; a Sefaz prontamente faz os ajustes
necessários. O comércio reclama, solicita, implora, suplica e a Sefaz não dar
ouvidos. A diferença é que uma demanda é técnica e a outra, não. Os pleitos da
FIEAM são solidamente construídos com elementos técnicos legais, enquanto o
comércio leva um canivete para a briga de foice.
A
Sefaz não é tão ruim quanto parece. Funcionários de alta patente respeitam e
ponderam reivindicações fundamentadas que não deixam largas margens para
contestações técnicas. Isso significa que o jogo deve acontecer na arena da
legalidade. Detalhe importante: A legislação do ICMS é recheada de erros normativos,
facilmente vulneráveis a ações de inconstitucionalidade. Mas, para mapear tais
inconsistências é preciso se debruçar num árduo e extenso estudo tributário. E
isso custa muito dinheiro porque poucos profissionais estão aptos para tal
incumbência. Não existe meio termo; é calça de veludo ou bunda de fora.
Voltando
aos nossos ilustríssimos deputados, impressiona a total desconexão dessas
criaturas bisonhas com o restante da sociedade amazonense. A maioria vive num
universo paralelo cheio de gente cega, surda e muda. Os parlamentares não se
sentem obrigados a prestar contas dos seus atos (unaccountability;
unaccountable). O pior de tudo é que o tapado povão reelege a cambada.
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