Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 21 / 7 / 2020 - A407
O
governo está encaminhando ao Congresso sua proposta de reforma tributária que
se resume ao desenterro da CPMF combinado com a desoneração da folha de salário
e com um jogo de troca do IR da pessoa jurídica para a pessoa física. Entra no
pacote a fusão de Pis/Cofins que na prática já são tratados como um só tributo.
A depender disso, teremos um arremedo de reforma tributária, como ocorreu na
reforma trabalhista do governo Temer que modificou 0,000000001% do arsenal burocrático
esparramado por meio mundo de normatizações legais. Na verdade, a reforma
tributária será nada mais nada menos que um pretexto para aumentar impostos. A
proposta da Câmara tem essa dita cuja finalidade, uma vez que o tal IBS majora a
alíquota do ISS de 5% para 25% (ou mais). Tantos rebuliços evidenciam a
completa desorientação política em torno do assunto. E não é pra menos. Nas últimas
décadas, a máquina burocrática trabalhou dia e noite na fabricação do monstro
indomável que hoje apavora o ambiente econômico e social brasileiro. O sistema
tributário é como um monumental castelo de cartas onde qualquer mexida pode
desmoronar tudo. Daí, que não devemos alimentar expectativas sobre reforma nenhuma.
Enquanto
a classe política discute o sexo dos anjos, continuaremos sufocados no pesadelo
dos tributos “por dentro” que se entrelaçam na cadeia de produção/distribuição.
Continuaremos presos nas armadilhas da não-cumulatividade. Continuaremos inflando
o desmedido contencioso fiscal. Continuaremos gastando fortunas com ações
judiciais. Seguiremos com elevados custos de conformidade legal. Continuaremos ostentando
a marca de pior lugar do mundo para fazer negócios porque os reformistas de
araque vão esculhambar o que já está bagunçado.
Uma
frase atribuída a Charles Chaplin diz que “do caos nascem as estrelas”. Só que,
no nosso caso, do caos nasceu a decisão do STF de prisão por inadimplência
tributária. Esse assunto tem gerado uma chuva de contestações no meio jurídico,
cujas argumentações tratam o ICMS como um imposto próprio da empresa e não como
um valor retido do adquirente da mercadoria. A culpa de toda essa confusão é do
poder público que se valeu duma alquimia maléfica para esconder o imposto da população.
O artifício utilizado está no mecanismo de “imposto por dentro” e no regime da “não-cumulatividade”,
cujas normatizações são astronomicamente volumosas e totalmente incompreensíveis.
A empresa acaba por fim “declarando o ICMS” que não cobrou do adquirente porque
não embutiu no preço. Esse caldo de abominações fomenta a tirania do agente fazendário,
enche o bolso dos advogados e alimenta uma vasta rede de corrupção. O pior de
tudo é que lamentavelmente vamos perder mais uma oportunidade de efetiva
reforma tributária. É possível que o nó da questão esteja na feroz resistência ao
modelo progressivo de tributação. O Estado precisa arrecadar; se não for
possível pela renda, será pelo consumo. E taxação elevada do consumo gera
revoltas na população. Desse modo, é preciso continuar escondendo a informação
do consumidor por meio do modelo que agora está levando empresários para a
cadeia. Que loucura!!
O
imbróglio da prisão por inadimplência só será eliminado quando o ICMS transitar
por fora das operações da empresa, como já ocorre na retenção do ICMS-ST pelo
substituto tributário. Nessa condição, o não recolhimento é pura e
incontestável apropriação indébita. Temos dois sistemas hoje funcionando que
podem muito bem servir de modelo para uma verdadeira reforma tributária, que é o
ICMS-ST e a estrutura do Simples Nacional. Ou seja, haveria uma só tributação “por
fora” que um comitê gestor distribuiria aos agentes fazendários. Algo parecido
com o ICMS-ST deixaria de ser um cálculo e passaria a ser uma alíquota numa
única fase dentro do Estado. Seria o fim da burocracia exacerbada.
A
burocracia exacerbada confere poderes divinos aos burocratas. Se essa burocracia
acabar, a escravidão do particular também acaba. Desse modo, advogados, juízes
e outros agentes públicos seriam enxotados do monte Olimpo. Curta e siga
@doutorimposto
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