segunda-feira, 27 de outubro de 2025

COMO FABRICAR UM POBRE

 


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal O Progresso  dia  24 / 10 / 2025 - OP013
Publicado no Jornal do Commercio  dia  28 / 10 / 2025 - A481
Artigos publicados 



O assistencialismo governamental tem por objetivo suprir as necessidades imediatas das pessoas carentes, em detrimento de políticas que as elevem para uma classe social superior. 

Indivíduos acorrentados nos porões do assistencialismo ficam viciados nas migalhas do consumo e ao mesmo tempo dependentes dum sistema ideológico. O pobre enxerga no distribuidor da ração seu único meio de sobrevivência. Com isso, a massa de proscritos sociais é facilmente manobrada pela ordem estabelecida. E para assegurar a perpetuação no poder é necessário um gigantesco contingente de votantes. A partir dessas premissas nasce toda sorte de mecanismos empobrecedores da sociedade brasileira, sendo o principal deles, a confiscatória tributação dos bens de consumo. 

O legislador tributário criou uma máquina diabólica para sangrar quem verdadeiramente produz a riqueza desse país. Por outro lado, a elite do setor privado fez um pacto maquiavélico com o poder público para jogar a carga mais pesada nas costas do pobre. A prova disso está num estudo da Professora Maria Helena Zockun (USP), o qual mostra que os altíssimos rendimentos pagam apenas 7% (IR), enquanto a classe média-baixa está na faixa dos 27,5%. É muito esquisito, o fato de uma Lamborghini pagar 12% de ICMS enquanto itens da cesta básica serem tributados em 19%. O IBPT aponta a carga tributária de 35% sobre peixes e 21% sobre ovos de galinha. A carga tributária escondida nos preços de alguns produtos se aproxima dos 90%. Por exemplo, 60% do forno micro-ondas é imposto (IBPT). Considerando o cipoal normativo, é impossível determinar com exatidão a carga tributária de qualquer coisa. Portanto, os números do IBPT estão subestimados e diabolicamente falsificados. 

O mecanismo por trás de nefastas mazelas está numa coisa chamada de “imposto por dentro” que mascara a verdadeira carga tributária. Por exemplo, na minha aula eu trabalho uma planilha de formação de preço, cujo ICMS “por fora” resulta em R$ 23,36 enquanto que “por dentro” fica em R$ 40,12. Tal fenômeno matemático acontece porque todos os componentes viram base uns dos outros. A carga real do ICMS é bem maior que a taxação oficial. Isso tudo joga o preço dos produtos lá pra cima. Nos países civilizados o imposto é “por fora”. Sendo assim, se os 60% do forno micro-ondas fosse calculado “por fora” o percentual seria de 150%. Considerando um forno de R$ 1.000 com R$ 600 de imposto embutido, somente R$ 400 é distribuído entre fabricante e comerciante (400 x 150% = 600).

E como desgraça pouca é bobagem, o sangramento do pobre acontece antes de receber o salário. O trabalhador empregado é dominado pelo arquétipo “direitos trabalhistas”. O político adora falar desses tais “direitos”. Interessante, é que muitos brasileiros se matam para largar os “direitos” no Brasil e depois viver sem “direito” nenhum nos EUA. Pois é. Sabemos todos nós que o empregado recebe metade do custo pago pelo empregador. Ou seja, para obter tais “direitos” o empregado perde metade do salário. 

Já faz muito tempo, discutem-se projetos para garantir os “direitos” dos motoristas de aplicativo. Desde 2014, a Uber pagou mais de R$ 6 bilhões em tributos, mas, mesmo assim, os políticos dizem que a Uber não paga imposto nenhum. Na verdade, o governo não quer muito, ele quer tudo; quer sangrar o contribuinte até a última gota de sangue. 

Pois bem. Para garantir os “direitos” dos motoristas de aplicativo, os valores das corridas teriam que triplicar. E para manter os preços atuais, o motorista teria seus rendimentos cortados pela metade ou menos. Esse seria o preço a pagar pelos “direitos”. O fato é o seguinte: Não existe uma mágica capaz de garantir “direitos” sem matar a funcionalidade da Uber ou cortar o pescoço do motorista. Parece que o governo quer mandar todo mundo de volta para o ônibus. Pelo jeito, alegria de pobre dura pouco. Isso mostra que nas profundezas regulamentadoras estão as mentes mais diabólicas do planeta. 

Então, a máquina de fabricar pobres é de uma engenhosidade satânica. Ela é construída por agentes normatizadores fortemente marcados por traços sociopatas. Todos os esforços arrecadatórios são sempre voltados para os mais pobres. Há pouco tempo, uma situação vergonhosa começou a ser corrigida, mas antes disso, muito IPVA foi arrecadado de motocicletas caindo aos pedaços, significando assim que o governador arrancou o pouco que o entregador passava semanas para ganhar. Ao mesmo tempo, o mesmo governador se recusa a cobrar o mesmo imposto de iates e jatinhos particulares dos seus amiguinhos milionários. Afinal de contas, imposto é coisa de pobre. Tantas desgraceiras replicam os modelos feudais e aristocráticos de séculos passados. Ou seja, o tempo passa, os atores são outros, mas o enredo é o mesmo.  

A classe política argumenta que é preciso manter o SUS, onde pessoas morrem sem atendimento. Quando o governador usa plano de saúde privado, ele está dizendo que jamais se arriscaria a ser atendido no SUS, jamais correria o risco de morrer na fila de atendimento. As notícias diárias sobre o SUS são simplesmente pavorosas. Mas os governantes seguem dizendo que o SUS é maravilhoso (para os outros). 

Em abril de 2020 o primeiro-ministro britânico Boris Johnson foi internado no hospital público londrino St. Thomas para tratar um quadro grave de covid-19. Por aqui, nunca, e nem nos maiores delírios ensandecidos, alguém pensaria na possibilidade dum político graúdo ser internado na rede pública hospitalar. Nossa mentalidade atrofiada nos impede de raciocinar como os ingleses. Afinal de contas, o porto de lenha nunca será Liverpool. 

Para reafirmar nosso modelo concretado, a reforma tributária recém aprovada beneficia advogados e economistas com carga menor, mas vai cobrar horrores do pedreiro ou da faxineira. O relator Eduardo Braga se esmerou na proteção dos grandes e no massacre dos pequenos, argumentando que foi a reforma possível de ser feita. O relator quis dizer que forças sobrenaturais impediram a construção duma estrutura justa e reformadora de fato. Curta e siga @doutorimposto. Outras centenas de artigos estão disponíveis no site www.next.cnt.br como também, informações sobre treinamentos online e presencial.
































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