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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 04/08/2015
A
pátria da corrupção vem há um bom tempo se desnudando frente ao mundo;
mostrando suas mazelas, suas idiossincrasias, suas feiuras. Melhor dizendo, ela
sempre esteve despida. A massa populacional mais adensada é que não enxergava
ou então tinha sérias dificuldades de compreender o que estava diante dos
olhos.
Aquele
garotinho criado no prostíbulo encara tudo a sua volta com naturalidade
absoluta; ele passa o dia brincando aqui e ali ou se distrai com uma coisa ou
outra etc. No horário agitado de expediente ele dorme no quartinho dos fundos.
Dessa forma, a vida vai passando, passando... Somente depois de bem crescido é
que as circunstâncias se apresentam ao menino com uma nova coloração, com um
novo significado. É como se de repente a cortina caísse revelando o cenário degradante
em que vivia. Na realidade, o ambiente é o mesmo; o que mudou foi o olhar, a
percepção, o juízo da coisa.
Nós,
brasileiros, estamos no meio da travessia onde parte da cortina já despencou.
Ou seja, começamos a enxergar características asquerosas naquilo que antes
tratávamos com naturalidade. E até o objeto de observação já está incomodado
com o nosso olhar de censor. Como bem disse Cazuza na canção “O tempo não
para”, “transformaram o país inteiro num puteiro porque assim se ganha muito
dinheiro”. E por mais que os promotores da balbúrdia continuem tentando nos
engabelar, seus velhos e eloquentes discursos agora soam como ridículos
cacoetes. Portanto, cresce num ritmo acelerado o nojo e a repulsa do povo aos
grandes ícones da nossa classe política. É interessante observar certas
criaturas abomináveis desfiando toscas peças de oratória na televisão, ao mesmo
tempo em que manifestam um pesado semblante demagógico. É como se o orador
tivesse uma protuberante verruga cabeluda bem na ponta do nariz. Nossa
incipiente maturidade política já nos permite olhar as coisas dessa forma.
Resta-nos então rezar para que muitas outras pessoas saiam da escuridão. O cidadão
decente e atento aos jatos de lama que jorram do noticiário vive com o estômago
revirado em face da podridão alastrada de norte a sul do país.
O
esforço do governo de todas as esferas é sempre insistir na tese da
normalidade. A mensagem subliminar transmitida pelas autoridades é de que todas
as desgraças resultantes da corrupção e da incompetência dos gestores públicos são
fatos absolutamente normais. A violência desenfreada é normal. O caos na saúde
é um fenômeno natural. O roubo no setor público acontece desde sempre. Nenhuma
obra pública é viável sem propina. Os contratos SEMPRE são reajustados. Os
prazos NUNCA são cumpridos. E tudo isso é normal. A população precisa entender
que o gestor público tem lá, o seu jeitão de ser, e isso NUNCA vai mudar.
Dias
atrás, a nossa presidentA afirmou que a culpada da crise é a Operação Lava
Jato. Ou seja, é preciso deixar o ladrão fazer o trabalho dele (roubar). Essa
coisa de honestidade não funciona no Brasil. As ações da Polícia Federal estão
destruindo os empregos porque tudo quanto é obra pública tá metida em alguma
falcatrua. Se toda empresa corrupta for proibida de fazer negócios com o
governo, logo, logo será preciso importar prestadores de serviço do exterior
porque os daqui estão todos leprosos. O pior é que qualquer um que se aproxime
do governo corre sério risco de grave infecção.
Pois
é. Somos o garotinho crescido, já adulto, enojado com a casa onde fomos
criados. O pior é que não temos pra onde ir; somos obrigados a conviver com
tantas mazelas e feiuras à nossa volta. Isso é uma opção. Podemos também lutar
para modificar esse ambiente apodrecido, mesmo que o grau avançado de
degradação não aponte nenhuma esperança de que um dia possamos viver num país
civilizado. Talvez a tarefa possa não ser tão árdua. Os nossos políticos linha
dura já demonstraram uma frouxidão vexatória quando são extremamente
pressionados. Basta lembrar a radical mudança de tom do governador Geraldo
Alckmin no momento em que a população foi pra cima em junho de 2013 com uma
energia nunca imaginada.
Podemos
mudar. Podemos botar toda a corja pra correr. Também, podemos exigir o efetivo
funcionamento de várias instituições que só fazem de conta que trabalham.
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