Doutor Imposto
Publicado no Jornal Maskate dia 27/08/2015 - A009
Nossa
carga tributária beira os 40% do PIB; trabalhamos exclusivamente para o Governo
até o dia 31 de maio. Somente depois dessa data é que passamos a usufruir do
suor do nosso rosto. Com isso, ninguém aguenta mais tanta pressão tributária. E
mesmo assim o Governo não para um minuto de mexer aqui e ali, numa coisa e
noutra, capando benefícios fiscais e majorando alíquotas. Por último,
des-desonerou (ou reonerou) o INSS da folha de salários. As prestadoras de serviços
estão assustadas com a movimentação em torno da unificação do PIS/COFINS – há
risco provável de duplicação da carga tributária, que já é sufocante. Isso,
fora a ultra hiper super mega complexidade de gerenciamento dessa obrigação
acessória. No passado, PIS/COFINS foi um gatinho manso até se transformar no tigre
alucinado de hoje. O Governo gaúcho quer aumentar a alíquota interna de ICMS. Outros
estados querem sobretaxar o já pesadíssimo ICMS da energia elétrica. E por aí,
vai...
Paradoxalmente,
o Brasil possui uma das menores taxações de imposto de renda em comparação aos
países desenvolvidos. As pessoas físicas
brasileiras pagam no máximo 27,5%, enquanto que a Suécia taxa a 58,2%;
Alemanha, 51,2%; EUA, 46,1%; México, 40%; Argentina, 35%. A razão de termos
baixa tributação de imposto de renda e alta carga tributária está nos pesados
impostos sobre consumo, contrariando a prática adotada nos países europeus,
como também nos EUA e Canadá. A tributação sobre consumo é a mais injusta e
particularmente perversa com a população pobre, que paga tanto quanto um
milionário. É o tal sistema regressivo de tributação. Não fosse isso, o pobre
poderia levar para casa o dobro de coisas, uma vez que metade do preço dos
produtos consumidos é puro imposto.
Curiosamente,
toda ação majoratória do Governo tem como alvo os tributos sobre consumo,
também chamados de tributos indiretos. Ou seja, toda artilharia confiscatória é
direcionada para a massa populacional estabelecida na base da pirâmide social.
Todo o monstruoso projeto da nota fiscal eletrônica e do SPED é voltado para os
tributos indiretos, que estão sempre aumentando. Já, imposto sobre renda e
sobre patrimônio é algo imexível. O Governo brasileiro não se atreve a cutucar
os ricos, isentando, por exemplo, os dividendos. Dentre os países membros da
OCDE, somente a Estônia concede essa isenção aos acionistas e sócios de
empresas. O Governo francês, por exemplo, chega a ficar com 60% de um processo
de herança, enquanto que aqui a taxação é baixíssima. Para completar o pacote
de excentricidades, no Brasil a pessoa jurídica paga mais imposto de renda do
que a pessoa física, contrariando novamente a prática corrente no resto do
mundo desenvolvido.
Para
comprovar o temor do Governo de mexer com o bolso dos ricos, a Receita Federal
pretende taxar a repatriação de dinheiro enviado ilegalmente para o exterior
com o percentual de 17%. Tal medida é um acintoso deboche ao trabalho honesto
dos empregados taxados a 27,5%. Grande parte desse dinheiro é oriunda do
tráfico, da corrupção e de diversas outras atividades criminosas. Taxar a uma
alíquota tão baixa seria uma espécie de lavagem de dinheiro sujo.
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