Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 29/09/2015 - A227
A
semana passada foi recheada de eventos alusivos ao Dia do Contador. Na
terça-feira uma instituição de ensino superior convidou a SEFAZ para proferir
uma palestra sobre a Nota Fiscal Amazonense, que, apesar de elucidativa e
desmistificadora, provocou um ostensivo clima de rejeição e desconfiança em boa
parte da plateia. É possível que a razão desse comportamento seja um reflexo da
agressiva campanha contra o excesso de taxações que circula na internet. Vários
mitos e interpretações equivocadas vêm perturbando essa iniciativa da SEFAZ AM.
Não é pra menos. O povo está escaldado das recorrentes armadilhas tributárias.
É imposto provisório que fica permanente; é nova taxação com alíquota baixa que
logo em seguida mais do que dobra; é normatização que diz uma coisa e na
prática é outra; é majoração e rebuliço pra tudo quanto é lado. Tanta
estripulia fez o Fisco que hoje está totalmente queimado no quesito confiabilidade.
Daí, o motivo de tanta rejeição ao engenhoso projeto Nota Fiscal Amazonense.
A
SEFAZ tenta, de todas as formas, convencer a população de que não compartilha informações
com a Receita Federal. Ou seja, o consumidor que incluir seu CPF na nota fiscal
poderá ficar tranquilo de que a SEFAZ não irá dedurar ninguém para o Leão do
Imposto de Renda. O problema é que as relações entre contribuinte e agente
arrecadador não são nada honestas.
Existe
um descompasso violento entre a honestidade requerida do contribuinte e a
honestidade praticada pelo agente arrecadador. E também entre as prerrogativas
e poderes dessas duas partes. Se o Contribuinte não paga ele é instantaneamente
punido com o bloqueio das suas operações. Isto é, a SEFAZ corta o oxigênio do Contribuinte,
que imediatamente é obrigado a dar seus pulos para não morrer sufocado. E
muitas vezes, esse Contribuinte é obrigado a pagar o que não deve (muitas e
muitas e muitas e muitas vezes). As cobranças indevidas do fisco estadual são
uma prática recorrente e sistematizada. Por exemplo, um grande atacadista foi
notificado nos três primeiros meses de 2013 a pagar 21 milhões de reais sobre
compras de mercadorias. Desse montante, somente R$5 mi era devido. Não fosse o
batalhão de funcionários conferindo meio mundo de notas fiscais, a empresa
seria sangrada em 16 milhões de reais, sendo a parte mais pavorosa dessa
história, a dificuldade gigantesca que a SEFAZ costuma colocar para efetivar o
ressarcimento. Ou seja, ela faz de tudo para não devolver aquilo que não lhe
pertence.
A
agilidade da cobrança é espantosa, mas, para ressarcir é um Deus-nos-acuda. Os
processos de ressarcimento de impostos pagos indevidamente costumam se arrastar
por anos a fio. Por exemplo, uma empresa que possui uma única e exclusiva atividade
(isenta de ICMS) foi obrigada a pagar mais de 400 mil reais de ICMS, sob ameaça
de fechar as portas. Diante da pressão os valores foram pagos. Posteriormente,
o Contribuinte deu entrada num pedido de ressarcimento que já tramitou por
vários e vários setores, sendo que depois de três anos a SEFAZ resolveu recomeçar
a análise do zero. Isso, num processo que de tanto documento solicitado, já
chegou a mais de 300 páginas. E como está de volta à estaca zero, será preciso
esperar mais três anos.
Outro
processo (bem simples), resultado da cobrança duplicada de ICMS sobre aquisição
de dois caminhões, teve o trâmite ágil e eficiente, sendo publicado no Diário
Oficial Eletrônico, o parecer do julgador favorável ao Contribuinte. Tal foi a
surpresa do Contribuinte ao saber que o processo voltou a ser analisado, sem
nenhum horizonte de solução.
Pois
é. Como é que um órgão que age dessa forma pode exigir honestidade e cooperação
dos empresários e dos consumidores? Como é que a SEFAZ quer que a população
acredite na Nota Fiscal Amazonense? Por que a SEFAZ pisoteia tanto o
Contribuinte? Que estranho prazer tem esse pessoal de espezinhar aquele que se
mata de trabalhar para recolher ICMS? Quando, um dia, encontraremos respeito
nos processos de ressarcimento?
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