Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 01/09/2015 - A224
A
história da ensolarada Roubolândia sempre foi marcada por convulsões sociais e
políticas. Grande parte dos seus primeiros habitantes era formada por
desterrados de outras plagas, devido a comportamentos reprovados pelos próprios
pares. Seus primeiros governantes tinham como missão explorar o máximo de
recursos naturais e posteriormente enviá-los para fora do país. A cultura da
exploração se perpetuou na elite e no poder. O objetivo de todos era sempre
ganhar alguma coisa ou tirar vantagem de alguma situação ou de alguém. Era todo
mundo querendo enganar todo mundo.
Com
o passar do tempo, as coisas se sofisticaram sob a influência europeia dos
ternos e das ideias progressivas que concorreram para a formação de uma
burguesia refinada. Aquela roubalheira tosca e amadora precisava ser reavaliada
e modernizada. Era preciso travestir a pilhagem de políticas públicas. Ou seja,
criar toda uma estrutura de Estado voltada unicamente para a fraude e para a
corrupção. O caminho escolhido foi o do enrosco burocrático extremado. A coisa
tinha que ser confusa e indecifrável, de modo a encobrir gigantescas operações
criminosas envolvendo o público com o privado.
Definido
então o modelo de cleptocracia acondicionado numa reluzente embalagem
democrática, a coisa seguiu o seu rumo através de décadas a fio, com rebuliços
aqui e ali, mas nada que ameaçasse a rotina dos grandes gatunos. O roubo tinha
que acontecer de modo a não matar o país, limitado que era o ingresso de sócios
ao clube dos pilantras de colarinho branco.
Para
manter o povo num permanente estado de exploração e ao mesmo tempo garantir a
perenidade dos exploradores, foi preciso incutir na cabeça desse povo o
conceito da práxis corrupta. Fez-se necessário fundir a imagem do político com a
figura do ladrão num forno de mil graus célsius. O produto dessa alquimia é uma
coisa tida como imutável e inexorável – algo incontestável pela própria
natureza de ser. Isto é, político é ladrão, sempre. Se não é ladrão, não é
político; se é honesto, nunca terá espaço na política. O político ladrão que
não agrada será fatalmente substituído por outro político ladrão. Simples
assim.
Outros
avanços sociais acontecem e os ladrões se apressam na adequação ao novo bioma.
A desfaçatez, a cara de pau e o cinismo são alçados a um novo patamar de
refinamento e sofisticação. Surgem os mitos, os messias salvadores, os atores
de maquiavélicas habilidades teatrais. Surgem os grupos, os encadeamentos
fisiologistas, as cooptações, os esquemas altamente entrelaçados e convertidos num
bloco de poder absoluto e inexpugnável. A certeza da indestrutibilidade infla
os egos e aguça a sede de mais poder. O passo seguinte é pensar alto, é matar
um país inteiro. E lucrar com isso.
O
que não contavam (os Top Super Bandidos Platinum), era com uma rara conjunção
astral de Saturno com Plutão invadindo a órbita de Mercúrio que deslocou a
gravidade de Júpiter bombardeando Roubolândia com uma chuva torrencial de
meteoros. O fenômeno apanhou todo mundo de surpresa. Ninguém acreditava no
desmonte do monstruoso bloco de tungstênio pelo bombardeio de adamantium
despencando do céu por meses a fio. Somente depois de muita avaria no bloco
corrupto é que as poucas pessoas honestas passaram a nutrir esperanças de ver
seu país livre dos ladrões. Mesmo assim, e depois de muito tempo, o núcleo duro
permanece intacto, apesar de perder grande parte da sua massa.
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