Doutor Imposto
Publicado no Jornal Maskate dia 14/01/2016 - A024
Não
faz muito tempo, o cartão de crédito era encaixado numa maquininha e
pressionado contra um formulário de papel-carbono. O cliente ainda tinha que
assinar o tal formulário carbonado para concluir o processo de compra numa
loja. Semanas depois as informações entravam num sistema computadorizado. Por
vários anos uma série de obrigações acessórias era datilografada em fichas e
depois apresentadas aos órgãos fazendários. O processamento da papelada
dependia da agilidade dos digitadores. Veio então o disquete a conferir
integridade da informação gerada pelo próprio contribuinte. A grande revolução
foi promovida pelo potencial infinito da internet. Mesmo assim, o conceito
original lá do passado perdurava. Ou seja, a informação continuava sendo construída
pelo contribuinte a partir da sua base crua de dados. A tecnologia seguiu
evoluindo até que, finalmente, o governo lançou o Sistema Público de
Escrituração Digital.
O
SPED é uma mistura dos filmes Matrix, Alien, e Sexta-Feira 13. O propósito dos
entes fazendários é se entranhar na vida do contribuinte de tal modo que o
Fisco quer saber quantas vezes o coração bate ou cada olho pisca. Pode-se ainda
afirmar que o SPED é uma espécie de papagaio de pirata pousado no ombro do
contribuinte, observando tudo o que ele faz. Nasce assim o conceito da sincronicidade.
Não aquele constituído por Carl Gustav Jung, mas um sincronismo entre a
ocorrência de cada fato patrimonial e sua respectiva leitura pelo Fisco. É isso
que acontece na emissão da nota fiscal eletrônica. Entretanto, várias
informações continuam sendo processadas e só posteriormente comunicadas ao
Fisco, tal qual ocorre com a escrituração contábil.
O
projeto e-Social, ainda atravancado por vários problemas, promete dar uma
chacoalhada nos procedimentos operacionais da área de gestão de pessoas. Nesse
novo sistema, a sincronicidade vem com força total, uma vez que cada evento será
transmitido ao SPED no momento em que o fato acontecer. Se a coisa funcionar a
contento não é difícil imaginar que lá na frente a dita sincronicidade seja
estendida a todos os módulos do SPED. Poderemos ter no futuro um ERP pai de
todos os ERP empresariais.
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