Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 26/01/2016 - A241
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Fato
amplamente noticiado pela imprensa deu conta de que as recentes (e profundas)
mudanças nas regras do ICMS estão matando uma empresa por minuto. Tal informação
foi divulgada por representantes de várias entidades empresariais na última
reunião do Confaz, ocorrida dia 20 último. O Conselho Nacional de Política
Fazendária é o organismo que congrega todas as secretarias de fazenda
estaduais. Uma decisão do Confaz é resultado da soma das decisões de cada SEFAZ
presente no país, a qual tem o poder de controlar o destino e a vida de cada
contribuinte brasileiro. O quadro é tão calamitoso que o presidente do Sebrae,
sr. Guilherme Afif Domingos, disse que faz-se urgente a revogação das
normatizações mais danosas às pequenas empresas; e que os microempresários não
podem esperar a próxima reunião do Confaz. Daí, o rebuliço em torno de uma ação
direta de inconstitucionalidade para estancar o sangramento de milhares de
empregos e de negócios país afora.
Como
é sabido até dos astronautas orbitando na estação espacial, o Brasil é a terra
da esculhambação jurídica. Por aqui, lei nenhuma vale absolutamente nada. O
próprio governo que constitui as leis é o primeiro a avacalhar com o que ele
mesmo cria. Por exemplo, a regulamentação da EC 87 pelo Convênio ICMS 93
descaracterizou completamente a condição de favorecimento operacional dos
pequenos negócios ao exigir que cumpram o mesmo conjunto de normatizações
impostas às grandes empresas. Contrariando frontalmente as faixas de tributação
dos anexos da LC 123, a pessoa jurídica do SIMPLES já era penalizada com
antecipação e substituição tributária do ICMS. Agora, soma-se a tais
excrecências o peso do DIFAL nas vendas interestaduais para não contribuinte do
imposto. Pior do que o aumento da carga tributária é a ultra mega complexa
operacionalização das obrigações acessórias trazidas à reboque pela EC 87, onde
para concretizar uma venda será preciso confeccionar até quatro guias de recolhimento
de ICMS. As pequenas empresas ainda terão que providenciar inscrição nas 27
SEFAZ do país. E como se sabe, conseguir uma inscrição estadual é um processo
dolorido e infernal. Agora, imagine 27 inscrições, cada uma com suas
peculiaridades e atravancamentos propinolísticos. Daí, o motivo de uma falência
por minuto. O SIMPLES Nacional é a maior fraude do nosso sistema jurídico
tributário – um engodo dos mais acintosos, cuja existência só serve para fins
de propaganda política. O sr. Afif Domigos é um especialista na arte de fazer
barulho e não resolver nada.
Tanta
confusão embrulhada no pacote da EC 87 poderia facilmente ser evitada com a
implantação de uma câmara de compensação tributária. Ou seja, as empresas
continuariam recolhendo o ICMS normalmente, ao passo que os órgãos fazendários
partilhariam as verbas entre si de acordo com as regras pactuadas em lei. Mas,
claro, fica evidente que uma SEFAZ não confia na outra SEFAZ. Isto é, cada uma
delas conhece o caráter da outra. Um sistema compensatório, certamente,
instalaria no país uma confusão jurídica de proporções bíblicas, com um,
passando a perna no outro para não pagar o que deve. A tumultuada experiência
do SCANC (partilha do ICMS de combustíveis entre os estados) já é motivo
suficiente para consolidar o clima de desconfiança presente no Confaz. Por
isso, os ilustres e honoráveis membros do Confaz optaram em jogar a bomba no
colo do contribuinte, que acabou por engolir a seco uma espinhosa burocracia ao
fazer o trabalho dos entes fazendários.
O
rol de eventos dantescos supracitados serve para demonstrar a fragilidade das
entidades representativas do empresariado, principalmente do comércio. Causa espanto
a passividade do poder econômico frente a tantos abusos e devaneios
ensandecidos do nosso legislador tributário.
As
pessoas que formulam o festival de normatizações transloucadas vivem num
universo absolutamente desconectado da vida real. Essas ditas criaturas não
sabem o que é vender, nem receber, nem carregar um caminhão, nem devolver uma
mercadoria; não têm noção de nada. O mundo desse pessoal é o universo a
imaginação criativa – uma terra maravilhosa pavimentada de tijolos amarelos,
onde fantásticos sistemas informatizados fazem tudo sozinhos, onde não existe
burocracia, onde todo mundo entende perfeitamente cada vírgula da legislação.
Esses burocratas encravados em gabinetes refrigerados ganham bons salários e
por isso mesmo estão se lixando com a morte de empresas ou com a desgraça dos
desempregados. A burocracia arrecadatória vem sempre em primeiro lugar.
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